Livro faz descobertas sobre os primórdios do futebol em Manaus
“Memória do Esporte Bretão Caboclo” resgata o período anterior ao estadual do Amazonas
O ano de 1914 marcou o surgimento do campeonato estadual do Amazonas, então resumido a times de Manaus. O futebol manauara, porém, já existia antes disso. Para resgatar as origens do esporte bretão no coração da Amazônia, um historiador amazonense acaba de lançar um livro sobre o tema.
“Memória do Esporte Bretão Caboclo – Os Primórdios do Futebol no Amazonas”, escrito por Gaspar Vieira Neto, faz um apanhado bem aprofundado sobre o esporte local no período de 1903 a 1914. Bem mesmo. Afinal, o livro lançado neste ano possui cerca de 600 páginas, com muitas informações e fotos.
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“Não se sabia quase nada sobre esse período. Só se dizia que Nacional e Rio Negro foram fundados em 1913 e que uma equipe de ingleses, o Manaos Athletic, havia conquistado o primeiro campeonato”, destaca Gaspar, professor de história na rede municipal de Manaus.
Torcedor do Rio Negro, o historiador enumera as centenas de equipes que surgiram no período anterior ao Estadual. E, interessante, faz descobertas como o primeiro time da cidade (o Racing) e o primeiro jogo a se ter registro (em 1903).
“Não se sabia quase nada sobre esse período. Só se dizia que Nacional e Rio Negro foram fundados em 1913 e que uma equipe de ingleses, o Manaos Athletic, havia conquistado o primeiro campeonato”. (Gaspar Vieira Neto)
“Só em 1909, surgem em Manaus 16 clubes. Em 1913, o futebol já está consolidado como esporte favorito de todas as classes sociais”, aponta Gaspar, de 43 anos, nascido na cidade de Manacapuru.
Um desses primeiros times, por ironia, foi um Vasco da Gama que jogou futebol antes mesmo do Vasco da Gama do Rio de Janeiro – com direito a faixa e Cruz de Malta no peito!
Em entrevista ao Verminosos por Futebol, Gaspar fala mais sobre o auge do futebol manauara nos anos 70 e a atual decadência dos clubes. E, claro, sobre o livro, resultado de cinco anos de pesquisa. “Valeu a pena o esforço”, reflete. Para os manauaras fãs de futebol, e como valeu.
“Era uma grande lacuna na história do futebol local”
Verminosos por Futebol – Por que o interesse de investigar o futebol amazonense do período anterior ao Estadual?
Gaspar Vieira Neto – O interesse partiu devido a eu perceber que ainda havia um período totalmente desconhecido da história do futebol amazonense, que são seus primeiros registros. Ou seja, desde o início do século XX até a década de 1910. Não se sabia quase nada sobre esse período, e quando se comentava algo dessa época, só se dizia que o Nacional e o Rio Negro foram fundados em 1913 e que uma equipe de ingleses, o Manaos Athletic, havia conquistado o primeiro campeonato em 1914. Era ainda uma grande lacuna na história do futebol local.Verminosos – Foi difícil reunir informações sobre o futebol amazonense de mais de um século atrás?
Gaspar – Não foi tão difícil porque a instituição em que eu pesquisei, o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, tinha todos os jornais da época onde constavam todas as fontes. O difícil mesmo foi a falta de tempo e o cansaço, pois tive de escrever e organizar as fontes tudo na ordem, conforme os anos. Mas valeu a pena o esforço.Verminosos – Nestes primeiros 15 anos do século, o futebol já era o esporte mais popular em Manaus?
Gaspar – Sim, ele foi se consolidando aos poucos. Antes os esportes preferidos da sociedade manauara eram o turfe e o ciclismo. Mas aos poucos o futebol foi ganhando terreno. Foi em 1909 que o futebol enfim conquista o gosto dos jovens e da imprensa em geral em Manaus. Só nesse ano surgem na capital amazonense 16 clubes de futebol. Em 1913, ele já está consolidado como esporte favorito de todas as classes sociais de Manaus.“Em 1913, o futebol já está consolidado como esporte favorito de todas as classes sociais de Manaus”.
Verminosos – Por que dessa época sobreviveram somente o Nacional e o Rio Negro? Eles já eram os clubes mais populares e estruturados em Manaus?
Gaspar – Sim, eram os mais estruturados. O Nacional já surgiu como um time grande, a ponto de ameaçar a hegemonia do time inglês do Manaos Athetic, fazendo com que o clube angariasse muitos torcedores. Já o Rio Negro começou como um time fraco que sempre perdia seus jogos. Mas, a partir de 1916, e com o desaparecimento do Manaos Athetic, o clube se organizou melhor e se fortaleceu a ponto de se tornar o novo e maior rival do Nacional. Com isso ele também ganhou muitos torcedores.Verminosos – Quais as principais descobertas do livro?
Gaspar – As maiores descobertas foram achar o primeiro registro de um jogo de futebol no Amazonas (em 1903), descobrir a história do primeiro clube de futebol que surgiu no Estado (o Racing), o nome dos primeiros craques e o nome de centenas de clubes de futebol, a maioria desconhecidos, que surgiram no Amazonas nesse período.Verminosos – O livro conta que houve em Manaus um Vasco da Gama anterior ao Vasco da Gama do Rio de Janeiro. Fala um pouco sobre a história dele.
Gaspar – O Vasco da Gama de Manaus foi fundado em 11 de outubro de 1913, por membros da colônia portuguesa do Amazonas. E foi extinto em 1915, quando se fundiu com outro clube, o Onze Português, para dar origem a uma nova equipe: a União Sportiva Portuguesa. O Vasco tinha as mesmas cores de seu homônimo do Rio, ou seja, preto e branco. O seu escudo também possuía a Cruz de Malta em destaque, assim como do Vasco carioca. Na verdade o Vasco manauara foi o primeiro com esse nome a praticar futebol no Brasil, pois embora fundado em 1898, o Vasco carioca só estreia em campo no ano de 1916, quando o Vasco do Amazonas já não existia. Não se sabe se o cruzmaltino manauara tenha incentivado para que o do Rio de Janeiro criasse sua equipe de futebol.“O Vasco manauara, fundado em 1913, foi o primeiro com esse nome a praticar futebol no Brasil, pois embora fundado em 1898, o Vasco carioca só estreia em campo em 1916”.
Verminosos – O futebol de Manaus registrou grandes públicos nos anos 70, com a chegada do Vivaldão. Qual foi o motivo da decadência dos clubes perante o futebol nacional?
Gaspar – Há vários motivos que aceleraram a decadência dos clubes amazonenses. Entre eles as más administrações, o descaso da federação, a migração de jogadores para outros centros, a corrupção, os maus resultados dos times locais em competições nacionais, a perda da identidade cultural do torcedor com os times da terra, a influência da mídia que veio preencher uma lacuna deixada pelos clubes em decadência no Amazonas, fazendo assim com que o torcedor se voltasse para os times do Rio e de São Paulo.Verminosos – Apesar disso, o Peladão virou referência nacional por sua grandiosidade no amador. O que explica isso? Por que o amadorismo é forte e o profissionalismo não?
Gaspar – Na periferia de Manaus o futebol é uma prática muito forte e está inserido no dia a dia dos moradores, pois é o esporte do povão. Há excelentes jogadores nos bairros e grandes rivalidades, o que faz com que o torcedor se identifique mais com eles, pois está mais próximo da realidade desses moradores. O que não acontece com o profissional, pois carece de grandes jogadores.Verminosos – Há esperança de que os clubes de Manaus voltem a figurar nas principais divisões nacionais?
Gaspar – Há sim esperança que os clubes amazonenses ressurjam das cinzas. Mas para isso tem que inserir uma nova mentalidade para gerir os clubes e a federação. Muita coisa tem que mudar, é preciso criar novos projetos, parcerias e uma gestão realmente profissional. Se isso não acontecer, o futebol amazonense continuará no fundo do poço e só lembrando de suas glórias do passado.Serviço:
O livro “Memória do Esporte Bretão Caboclo – Os Primórdios do Futebol no Amazonas”, lançado em formato digital, é vendido por R$ 35, no site de Gaspar Vieira Neto.
Mais informações – Whatsapp 92-99128.3924.
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