Enquanto os estádios brasileiros se tornam cada vez mais europeus, os europeus sonham com a aura sul-americana. Pesquisa da Hattrick aponta que 85% dos torcedores da Europa gostariam de assistir a jogos em pé. Um sinal de que a modernização das arquibancadas ameaça o caráter popular do maior dos esportes.

Atualmente os estádios da 1ª e 2ª divisões inglesas têm cadeiras em todos os setores. A medida foi decorrência da tragédia de Hillsborough, em 1989, quando 96 torcedores do Liverpool morreram esmagados por superlotação em jogo contra o Nottingham Forest, em Sheffield, pela Copa da Inglaterra. A partir daí, os estádios do país ganharam cadeiras e perderam fossos e alambrados.

O fenômeno se repetiu pelo mundo, com quase todo novo estádio. Estádio não, arena, pois os estádios se tornaram cada vez mais teatro, e cada vez menos estádio. Com mais custos de organização, os preços de ingressos sofreram uma escalada. E isso afastou de vez o torcedor “geraldino”, que virou popular no Maracanã.

Passadas duas décadas, a pesquisa da Hattrick mostra que os europeus estão descontentes com os rumos do “futebol moderno”. “Isso mostra que muitos fãs ainda desejam a atmosfera de futebol mais tradicional “, comenta Jesper Andersen Mejer, diretor de marketing da Hattrick, ao jornal East London Advertiser.

 A pesquisa mostra que muitos fãs ainda desejam a atmosfera de futebol mais tradicional”. Jesper Andersen Mejer, diretor de marketing da Hattrick.

Os anseios encontram eco em nomes de peso do futebol inglês, como o técnico do Arsenal, Arsene Wenger, e os proprietários do West Ham, David Gold, e do Queens Park Rangers, Tony Fernandes. “Como um fã e proprietário, adoraria ver o jogo em pé”, comentou o dirigente do QPR em sua conta no Twitter.

Os alemães iniciaram esse movimento após a Copa do Mundo de 2006. As autoridades do país não se opuseram quando clubes decidiram retirar parte dos assentos dos estádios. O Borussia Dortmund, dono da maior média de público do mundo (80 mil torcedores), destina 25 mil lugares a torcedores em pé. É nesse setor onde são realizados seus incríveis mosaicos.

O Grêmio cogitou fazer algo parecido em sua nova arena, em nome da tradicional comemoração da avalanche. A ideia, porém, quase foi abortada após acidente. O espaço sem cadeiras foi liberado pela polícia, mas com gradis de segurança e sem avalanche.

Como um fã e proprietário, adoraria ver o jogo em pe”. Tony Fernandes, proprietário do Queen Park Rangers.

“Essa pesquisa deveria ser levada em consideração no planejamento de novos estádios”, adverte o diretor de marketing da Hattrick. Ironicamente, enquanto os brasileiros estão indo em direção a uma moda, os europeus já estão voltando.

Vídeo do mosaico da torcida do Borussia Dortmund:

Acidente na avalanche da Arena do Grêmio:

Reportagem sobre a tragédia de Hillsborough: