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Papo sério

Fizemos um tour em Montevidéu, uma das cidades com mais times no mundo

O jornalista Ciro Câmara visitou 24 atrações futebolísticas em oito dias no Uruguai

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Montevidéu é uma das cidades mais estádios e times no mundo (Foto: Reprodução)
Montevidéu é uma das cidades mais estádios e times no mundo (Foto: Reprodução)

Por Ciro Câmara

São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires? Engana-se quem pensa que uma intrusa não pode surpreender e desbancar as favoritas quando o assunto é o título de cidade sul-americana mais apaixonada por futebol. No momento em que Montevidéu começa a investir na divulgação de seus atrativos turísticos e culturais, a paixão dos orientais pela bola também ganha projeção. Tive a oportunidade de conhecer de perto um pouco dessa aura em julho de 2016, e, a convite do Verminosos por Futebol, repasso aqui minhas principais impressões sobre um país que tem verdadeira adoração pela bola.

Fiquei pouco tempo entre os uruguaios, apenas oito dias “cheios”, acompanhado da minha esposa e dos pais dela. O apurado futebolístico, contudo, foi intenso. Visitamos 24 atrações ligadas à pelota, sendo 12 estádios. É bom deixar claro que tive o apoio no roteiro do meu amigo Alejandro Sanchez, torcedor fanático do Peñarol que conheci em 2009, em viagem a Curitiba, e que teve a oportunidade de se hospedar na minha casa, em Fortaleza, por duas vezes, sendo uma delas no Mundial de 2014, seguindo a seleção uruguaia.

O Ale nos guiou, sempre no carro dele, e conseguiu inserir as paradas nos campos, sedes de times e outros atrativos dentro do roteiro clássico de turismo, de modo que não ficou tão pesado pra quem me acompanhava. Eu também procurei não me alongar muito nas paradas mais tranquilas. Já visitei mais de 60 canchas ao redor de mundo e aprendi, à custa de muita discussão com minha mulher, como contemplar meu verme pelo futebol e não atrapalhar os demais passeios.

O que chama a atenção em Montevidéu é o número de clubes na cidade. Como o país é pequeno e tudo praticamente orbita na Capital é natural que isto se reflita em uma cidade com dezenas de times e estádios. Não raro você está em deslocamento para um monumento ou museu e bate com um estadinho ou CT. Praticamente toda a cidade é marcada por grafites, desenhos e pichações dos clubes locais – os gigantes Peñarol (Manya, CAP ou Carboneros) e o Nacional (CN de F e Bolso). Nas cercanias dos clubes menores também há desenhos nas cores destas equipes, o que deixa a cidade bem colorida, anárquica e boleira.

Montevidéu possui, talvez, um terço do tamanho de Buenos Aires, mas tantos times como a capital argentina. Aqui vale registrar que a estrutura dos clubes de Buenos Aires, no geral, é maior do que os uruguaios. Um estádio como o do Huracán, por exemplo, é maior que o Parque Central, do Nacional – isso sem contar os dos grandes Boca, River, Racing, Independiente, San Lorenzo e Velez. A maioria das “canchas” é bem simples, similares a uma Rua Javari da vida em capacidade.

Basicamente, possuem um portão principal, quase sempre encostado e sem vigilância – quando muito um servente. Em geral, basta se apresentar como brasileiro, dizer que gosta de futebol e que não vai demorar na parte interna do clube. Se estiver fechado, um registro da parte externa fica como consolo. Nesse modelo eu visitei os estádios do Defensor, Danúbio, Montevideo Wanderers, River Plate e do Fênix. Sugiro que estes clubes sejam visitados apenas se estiverem próximos ao seu roteiro turístico (ficam em pontos distintos da cidade) ou se você tirar realmente a viagem pra conhecer os campos.

  • Estádio Centenário (Foto: Acervo pessoal)
  • Estádio Centenário (Foto: Acervo pessoal)

Centenário e Museu do Futebol

O mais importante ponto turístico boleiro em Montevidéu é, de longe, o estádio Centenário. Palco principal da Copa do Mundo de 1930, fica em área central da cidade e possui seu conjunto arquitetônico tombado. A Torre da Homenagem (ou Torre Olímpica), que orna o estádio, pode ser avistada de muitos pontos da cidade e serve como referência aos visitantes.

É no Centenário que está instalado o Museu do Futebol, parada obrigatória até para o turista regular, não iniciado nas memórias da bola. É recomendado, inclusive, por ser o único do gênero na cidade – ponto negativo para os principais clubes, Peñarol e Nacional, que deveriam seguir os exemplo dos “vizinhos” Boca e River.

A entrada custa 150 pesos uruguaios (menos de R$ 20) e contempla os dois pisos do museu, uma sala de exibição do vídeo oficial da Fifa sobre a Copa de 1930 e uma visita a uma das tribunas do estádio, de onde se pode tirar fotos interessantes. Se quiser visitar a Torre da Homenagem, você gasta mais 50 pesos. Vale pelo visual 360 graus da cidade e da perspectiva do campo.

O museu é bem memorabília mesmo, sem dar muita importância para o audiovisual. É o meu estilo, particularmente. O primeiro andar é basicamente sobre as duas conquistas olímpicas do futebol uruguaio, que eles consideram, na minha opinião com justiça, como títulos mundiais de futebol, já que foram vencidos em 1924 e 1928, portanto, antes da Copa de 1930. No segundo andar aparecem os dois mundiais conquistados, as copas américas e outras vitórias. Gostei de ver ali a porta original da primeira sede da Associação Uruguaia de Futebol (AUF). O pórtico de granito em que ela estava foi preservado e segue no endereço antigo, na avenida 18 de Julho, a principal da região central – também estive lá.

Um detalhe que me chamou a atenção no museu foi o imenso troféu que a Sul América Seguros ofertou ao campeão de 1950, que certamente eles pensaram ser pro Brasil. Outros destaques em verde-amarelo são as camisas usadas por Pelé e Vavá na Copa de 1958. Há também erro em uma foto do Brasil assinalada como campeão de 1962, mas, na verdade, é o time de 1958. Percebe-se pela camisa azul e pela presença do Feola na foto. O organizador do museu me disse que muitos brasileiros destacam esse erro, o que demonstra que quem vai ali também está por dentro da nossa história. O museu possui uma lojinha com artigos ligados ao futebol uruguaio e à seleção charrua.

Fora do estádio ainda há atrativos como a fachada pintada com desenhos típicos da arte na época da inauguração; a entrada principal, com uma bela escultura similar à do cartaz oficial do Mundial de 1930; e um monumento aos campeões mundiais até a Copa de 1990 (detalhe para o registro do ouro olímpico em 1924 e 1928, assim como a Bélgica em 1920); entre outros atrativos. Há também os estádios do Central Español e do Miramar-Misiones ao lado do Centenário. Estes dois, por incrível que pareça, eu só avistei passando de carro e de cima, olhando da Torre da Homenagem.

  • Estádio do Nacional (Foto: Acervo pessoal)
  • Estádio do Nacional (Foto: Acervo pessoal)
  • Estádio do Nacional (Foto: Acervo pessoal)
  • Estádio do Peñarol (Foto: Acervo pessoal)
  • Estádio do Peñarol (Foto: Acervo pessoal)
  • Estádio do Peñarol (Foto: Acervo pessoal)
  • Estádio Centenário (Foto: Acervo pessoal)

Peñarol x Nacional – Clássico que divide o Uruguai

Se nas camisas trajadas pelos torcedores no dia a dia e nos desenhos pela cidade a disputa entre Peñarol e Nacional me pareceu empatada, na questão de estrutura o clube Carbonero levou vantagem. O novo estádio Campeão do Século foi inaugurado em novembro do ano passado e, em que pesem detalhes finais de conclusão, é à altura das tradições do clube. Fica fora da cidade e conta com capacidade pra cerca de 40 mil hinchas, como se chamam os torcedores nos países sul-americanos que falam espanhol.

O trajeto até o estádio é longo e só vale se for de carro – táxi ou alugado. Não consegui entrar justamente porque eles usaram o período em que os jogos não eram realizados para finalizarem algumas obras externas. A previsão é de instalação de um museu no estádio e de um estacionamento na parte externa. O nome foi escolhido pela torcida, em enquete proposta pelo clube, e faz alusão à classificação da Fifa destacando o Peñarol como o time mais vencedor das Américas no século passado.

Mas se não deu pra entrar no estádio o Peñarol compensou na sede social, chamada de Palácio Peñarol, no bairro de Cordón. Fica a umas cinco ou seis quadras da Avenida 18 de Júlio, na altura da Praça dos 33 Orientais, que você pode tomar como referência. Ali não há campo de jogo, mas eu pude entrar na lojinha, na recepção dos sócios e numa pequena sala de troféus. Deu pra perceber como o clube movimenta as cercanias. Praticamente tudo no perímetro do Peñarol é preto e amarelo. Os torcedores são chamados de Carboneros (Carvoeiros) porque o time é originário de um grupo de ferroviários.

Para não ficar tão atrás o Nacional reforma seu estádio, o Gran Parque Central, que fica a menos de dois quilômetros do Centenário. Como o próprio nome entrega, a cancha está localizada numa região bem localizada. Gostei da receptividade e da falta de cerimônia. Assim que entramos o segurança já mostrou o elevador e indicou como chegar à tribuna.

Em 30 segundos estávamos de frente para o pasto nacionalista. Com direito a uma imagem do famoso cantor de tango Carlos Gardel pra nos fazer companhia. O Nacional também possui uma lojinha, mas que fica a duas quadras do estádio, na sede social do clube.

O nome Nacional se dá, obviamente, pelo caráter nacionalista do time. As cores do clube são baseadas na primeira bandeira do país, tricolor, que foi confeccionada pelo principal líder da independência uruguaia, José Artigas. O clube também é conhecido pelo inusitado apelido de Bolso, porque os primeiros uniformes do time possuíam um bolsinho na altura do peito.

  • Bairro de Pocitos (Foto: Acervo pessoal)
  • Bairro de Pocitos (Foto: Acervo pessoal)

Arte na rua (Pocitos)

Um ponto futebolístico bem peculiar em Montevidéu é o antigo estádio do Peñarol, no bairro de Pocitos. Foi ali que, em 13 de julho de 1930, o atacante francês Lucien Laurent anotou o primeiro gol dos Mundiais. O campo não existe mais, deu lugar a empreendimentos imobiliários na região, mas, após análises de fotos da época, o terreno exato foi encontrado, a convergência das ruas Coronel Alegre e Charrua. No local, o artista plástico Eduardo di Mauro construiu obras simbolizando os pontos exatos do centro do gramado (Cero a cero y pelota AL medio) e o arco que balançou no gol histórico (Donde duermen las arañas). Vale colocar o endereço no GPS e pisar no solo sagrado.

Cerro x Rampla – Rivalidade no morro

Outro passeio turístico que pode ser combinado com futebol é a visita ao Cerro (Morro ou Monte) de Montevidéu. O local, que abriga o primeiro farol e quartel do país, foi ponto de resistência e hoje abriga um museu militar, além de fornecer a vista mais alta da cidade. O Cerro é tão importante que está imortalizado no símbolo nacional do Uruguai, ao lado de uma vaca, um cavalo e da balança da Justiça.

No caminho até o Cerro, logo na parte baixa do bairro, você pode visitar o clube homônimo da região, o Club Atlético Cerro. Seu estádio é o tradicional Luis Tróccoli, que está bem acabado, mas é muito interessante por dentro. Apesar de mal conservado, também pode render registro interessante de um mural que o cerca pelo lado direito das tribunas.

O rival do Cerro é o Rampla Juniors, uma equipe modesta que completou 100 anos em 2014 e possui um dos campos mais interessantes que já vi. Como está posicionado ao lado do Rio da Prata e não possui o anel de arquibancadas fechado, possibilita uma vista incrível do horizonte. Passa por recente melhoria tocada pelos torcedores. Segundo um deles, Fernando, que nos recebeu “uma coisa boa do estádio é que se o jogo está ruim você pode apreciar a vista”. Foi a experiência mais inusitada de toda a viagem.

Uma dica. Tanto para tentar a sorte nas visitas às canchas ou para subir pro Cerro é importante que o trajeto seja feito de dia e, de preferência, em carro alugado ou táxi. A região pode ser perigosa em horários ermos.

  • Estádio do Ramplas (Foto: Acervo pessoal)
  • Estádio do Ramplas (Foto: Acervo pessoal)

Fora de Montevidéu

Os dois principais destinos turísticos do Uruguai fora Montevidéu são Colônia do Sacramento e Punta del Este. E lá também se pode ver um pouco de bola. Mas para falar de turismo mesmo, os dois pontos estão em rotas diferente e distam menos de 200 km da Capital. Sugiro pelo menos dois dias em Punta (que é tipo Miami/Mônaco) e um bate e volta até a histórica Colônia – quem puder passar mais tempo, ótimo.

Sobre futebol, Punta del Este possui uma equipe tradicional, o Maldonado, que hoje está na Série B do Uruguai. Lembro do time porque lá jogou o Loco Abreu. O estádio em que manda os jogos é o Domingo Burgueño Miguel, pertencente ao poder público. É o melhor estádio que vi em termos de estrutura e capacidade, levando-se em conta que não entrei no do Peñarol. O ponto negativo é que como o time não tem a sede lá, carece de itens de memória.

Partindo pra Colônia eu pude conferir o campo em que joga a sensação do futebol uruguaio na última temporada, o pequeno Plaza Colônia, que foi pra decisão e só perdeu o título pro Peñarol na prorrogação. O estádio Professor Alberto Suppici fica próximo da parte histórica da cidade e o desvio não prejudica em nada a visita à acolhedora Colônia, fundada por portugueses e tombada como patrimônio histórico da humanidade pela Unesco.

O estádio é bem singelo, mas com bom gramado. A administração deixou que entrássemos nas arquibancadas e até no campo. Como o espaço é público, e o time muito modesto, conhecer de perto a pouca estrutura do Plaza é comprovar de perto a façanha que o Alviverde alcançou recentemente.

Em Colônia eu também visitei a sede regional do Peñarol. É um espaço simples, com uma pequena quadra e um salão para a confraternização de torcedores. O clube possui sedes assim em cada um dos estados uruguaios. Logo à frente, do outro lado da avenida, fica a sede social do Plaza Colônia, que é bem acanhada, mas com restaurante aberto ao público, uma pequena lojinha e uma piscina.

Curiosidades:

– Na parte externa do Centenário há uma placa em homenagem a Tito Borjas, um dos principais jogadores da campanha do Mundial de 1930.
– O Centenário recebeu esta denominação por conta dos 100 anos da primeira constituição do Uruguai, celebrados justamente em 1930. O estádio foi erguido em apenas oito meses.
– Na região central há uma loja chamada “Rincón del Hincha”, que me chamou a atenção por possuir artifícios de clubes menores. Comprei uma lembrança do Defensor lá. Fica numa rua paralela à 18 de Julio.
– O campo em Punta del Este/Maldonado é o mesmo em que o Palmeiras ficou no 2 a 2 com o River do Uruguai pela Libertadores de 2016.

Confira outros pontos futebolísticos:

  • Danubio (Foto: Acervo pessoal)
  • Defensor (Foto: Acervo pessoal)
  • Defensor (Foto: Acervo pessoal)
  • Fenix (Foto: Acervo pessoal)
  • Fenix (Foto: Acervo pessoal)
  • Maldonado (Foto: Acervo pessoal)
  • Maldonado (Foto: Acervo pessoal)
  • Montevideo Wanderers (Foto: Acervo pessoal)
  • Plaza (Foto: Acervo pessoal)
  • Plaza (Foto: Acervo pessoal)
  • River Plate de Montevidéu (Foto: Acervo pessoal)
  • Cerro (Foto: Acervo pessoal)
  • Bella Vista y Miraflores (Foto: Acervo pessoal)
  • Cerro (Foto: Acervo pessoal)

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