Dono da Carioca relembra o tempo em que sua marca era uma das maiores do Brasil
A Carioca, fundada em 1980, chegou a vestir 129 clubes no seu auge nos anos 90
O futebol carioca, na década de 1990, era sinônimo da Carioca. A marca esportiva vestia quase todos os clubes pequenos do Rio de Janeiro. E também no Espírito Santo, em Minas Gerais e na Bahia. O domínio sobre a concorrência era massacrante. Tradição que o criador da empresa, que faliu em 2002 e foi refundada em 2017, espera resgatar.
Se você curtia os designs geométricos de camisas de times do Brasil, que também fizeram a fama de marcas brasileiras extintas como Dell’erba, CCS e Finta, agradeça a Jorge Bortolo. Foi o empresário quem importou um método já incorporado por fabricantes europeus: a transferência de tinta para tecido sintético com uso de calor.
“Até os anos 80, uma camisa de futebol listrada era feita com peças de algodão de cores diferentes que eram costuradas. As poucas empresas brasileiras que produziam uniformes esportivos inovavam pouco, então eu trouxe da Alemanha a ideia da sublimação”, relembra Bortolo, capixaba hoje com 63 anos. “Fui pioneiro dessa técnica no Brasil”, gaba-se.
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Quando nasceu
Cunhado de Luiz Fumanchu, atacante capixaba dos anos 70 e 80 com passagens por Vasco, Fluminense e Flamengo, Bortolo abriu a Carioca em 1980, em Castelo (ES), onde nasceu. Para vestir o Castelo FC, o time da cidade, a diretoria precisava ir a São Paulo para comprar uniformes. Bortolo, então com 24 anos, viu ali uma oportunidade de negócio.
Logo a empresa faria os uniformes de todos os clubes profissionais do Espírito Santo. “Foi um crescimento rápido”, conta. Principalmente depois que, em 1982, Bortolo viajou a Europa em busca de novidades que já desfilavam nos gramados. “A Adidas europeia era infinitamente superior a Adidas brasileira”, exemplifica.
Veja algumas camisas da Carioca:
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
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Muitas camisas da Carioca viraram clássicos do futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
Linha de montagem
Quando aposentou as camisas de algodão, usadas desde os primórdios do futebol no Brasil, a Carioca adotou uma nova linha de montagem. Bortolo criava o design e oito desenhistas o reproduziam em telas, que depois era passado para um papel offset através de silk screen. Por fim, os grafismos eram transferidos (ou sublimados) para os uniformes.
A boa nova correu pelos campos do país. “Em 1986, já estávamos patrocinando 99% dos times profissionais de Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia”, revive o empresário. Bem, “patrocinando” é um modo de dizer. Afinal, não havia contrato entre as partes. “Era tudo de boca mesmo”, sinaliza.
“Até os anos 80, uma camisa de futebol listrada era feita com peças de algodão de cores diferentes que eram costuradas. Eu trouxe da Alemanha a ideia da sublimação”. (Jorge Bortolo)
Naquele tempo de marketing esportivo insipiente, o clube encomendava o uniforme do time profissional, e às vezes recebia gratuitamente os materiais de treino e/ou das categorias de base. No caso da Carioca, nunca a empresa pagou para vestir um clube, como ocorre hoje em dia – era justamente o contrário.
Para divulgar seu produto, a fábrica investia em publicidade. Inclusive na revista Placar, a maior publicação esportiva do país. Em certa ocasião, em fevereiro de 1996, foram dois anúncios numa mesma edição – uma página apresentava camisas de clubes profissionais, enquanto a segunda oferecia uniformes para times amadores.
Do chão ao topo
Inovação e propaganda levaram a Carioca ao alto. Na década de 1990, a empresa chegou a vestir 129 clubes ao mesmo tempo. Numa época em que os estaduais ainda não contavam com tantos times profissionais em atividade, essa quantidade impressiona. “Cuidar da operação toda era um desafio”, garante Bortolo.
E bote desafio nisso. Para dar conta, a Carioca tinha 160 funcionários. A empresa possuía filiais em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Campo Grande, Vitória, Cariacica (ES), Juiz de Fora (MG) e Campos dos Goytacazes (RJ). “Vendíamos 86 mil camisas por mês”, destaca o empresário.
No último levantamento nacional de venda de camisas de futebol, de 2016, somente dois clubes brasileiros comercializaram mais peças do que isso mensalmente naquele ano: o Flamengo (com 166 mil) e o Corinthians (140 mil). O São Paulo, o terceiro, ficou em 81 mil. “Era muita camisa!”, exclama.
“Vendíamos 86 mil camisas por mês. Era muita camisa!”
Um belo empurrão foi dado por Eduardo Viana “Caixa D’Água”, ex-presidente da federação do Rio (1984/2006). Fã dos designs da Carioca, ele bancava a produção dos uniformes usados pelos clubes pequenos do estadual. “Depois, de cada time vendíamos entre 500 e 1.000 camisas”, estima Bortolo.
No Campeonato Carioca de 1995, nove dos 16 clubes participantes vestiram uniformes da Carioca: Americano, Barreira, Campo Grande, Entrerriense, Friburguense, Itaperuna, Madureira, Olaria e São Cristóvão. Às vezes, o próprio empresário conseguia os patrocinadores que estampavam as logomarcas.
“Dos grandes do Rio, somente o Flamengo nunca vestiu a Carioca, nem que seja em uniformes de treinos ou nas categorias de base, como Botafogo, Fluminense e Vasco”, aponta Bortolo, torcedor flamenguista e admirador do América. Essa onipresença atraía o interesse de times amadores, que podiam adquirir uniformes com design idêntico ao dos profissionais.
Veja mais camisas da Carioca:
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
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Camisas fabricadas pela Carioca viraram foco de colecionadores (Foto: Cezar Trunkl)
Do topo ao chão
O cenário do futebol na virada dos anos 80 para 90 era favorável às marcas brasileiras. A Adidas, que até anos antes dominava a produção de uniformes dos clubes, reduziu sua participação a dois grandes – Flamengo e Palmeiras. Agora, empresas como Carioca, Penalty e Topper não tinham sombra estrangeira.
O jogo, porém, se acirrou após o Tetra da seleção brasileira, em 1994. A consequente valorização do “produto futebol” e a chegada a seguir da Nike ao país, em 1996, estimularam o mercado dos uniformes esportivos, e inflacionaram valores. “A competição ficou maior”, constata Bortolo.
Mas não foi só isso. A tecnologia, que tinha sido uma aliada nos anos 80, mudou de lado na década seguinte. “Foi difícil a adaptação para o processo informatizado. Precisei contratar gente de fora para operar os computadores, e não conseguimos o mesmo sucesso do tempo em que era tudo manual”, admite.
“Foi difícil a adaptação para o processo informatizado”.
Além disso, a chegada do Real, lançado em 1994, também jogou contra. O dólar despencou em relação a moeda brasileira, e a Carioca perdeu fôlego financeiro. “Nunca peguei empréstimo, a gente sempre utilizava recursos próprios”, situa. Em alguns anos, o quadro já era irreversível, relembra Bortolo.
“Quando vi, a empresa estava no buraco”, lamenta o empresário. Entregue a credores, a Carioca sobreviveu até 2002, quando foi decretada falência. Foi o mesmo destino (triste) de tantas outras empresas esportivas de pequeno e médio porte que exibiram seu auge entre os anos 80 e 90.
De volta ao jogo
Quinze anos depois da saída de cena, Bortolo voltou ao futebol no fim de 2017. A Carioca surgiu com o mesmo nome, porém sob novo CNPJ. Inicialmente, com foco na fabricação de uniformes para times amadores e de categorias de base, além de outros esportes. A intenção, claro, é retornar ao futebol profissional.
“Times como América, Madureira, Volta Redonda, São Cristóvão e Americano nos deram muita projeção nacional”, resgata o empresário, que mora no Rio de Janeiro. Agora, no entanto, a concorrência será forte com marcas que exercem um domínio parecido ao que tinha a Carioca, como Ícone e WA Sport.
“Prefiro não falar em nomes, mas a maioria dos fabricantes de uniformes de times pequenos do Rio de Janeiro de hoje em dia já trabalharam para nós no passado”, confidencia, com um orgulho acompanhado de uma pontinha de frustração.
“Times como América, Madureira, Volta Redonda, São Cristóvão e Americano nos deram muita projeção nacional”.
A inspiração para Bortolo nesta retomada é a admiração de muitos colecionadores de camisas de futebol por sua marca. Algumas camisas da Carioca de times do Rio chegam a ser vendidas por R$ 300 na internet. “Acho sensacional que, depois de tantos anos, ainda haja esse interesse”, reflete.
Por isso, o empresário teve uma ideia que virou aposta comercial, no fim de 2018: o lançamento de uma linha retrô, com desenhos iguais aos de suas camisas marcantes. Agora, porém, em tecidos mais leves. Ao invés do poliéster tradicional, que fazia a blusa pesar 250g, o poliéster dry, com peso de 80g.
“Hoje, a empresa está toda digital. Podemos fazer qualquer camisa, no modelo que o cliente quiser”, promete. O preço das blusas retrô, feitas sob encomenda, é de R$ 50 – uma pechincha diante das peças vintage. Se a nova Carioca atingir a metade do sucesso da antiga, já será uma volta em grande estilo.
Serviço:
Linha Retrô da Carioca
Preço: 50 (compras feitas sob encomenda).Sede: Rua Teófilo Otoni, 166, Centro, Rio de Janeiro.
Fones: 21-2283.3159, 21-99995.3526 (Whatsapp) e 21-99995.6202.
cariocasport@cariocasport.com.br / www.cariocasport.com.brRedes sociais: Facebook e Instagram.
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Eu tenho guardado com carinho a camisa do São Cristóvão com o patrocínio “Lá Parole” e ainda mandei fazer as camisas do meu time de pelada do prédio, quando era adolescente, com eles.
É bom ver a Carioca de volta ao mercado.