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Brasileiro vegano vira torcedor do Forest Green, o 1º “clube verde” do mundo

O carioca Karl Campinha Werckmeister se identificou com o Forest Green, da 4ª divisão inglesa

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O Forest Green ganhou fama depois de aderir à causa vegana (Foto: Acervo pessoal)
O Forest Green, de Karl (dir.), ganhou fama depois de aderir à causa vegana (Foto: Acervo pessoal)

Em 2015, o Forest Green Rovers FC, um pequeno time centenário da Inglaterra, adotou uma nova política que virou notícia. Fundado em 1889 em Nailsworth, ele se tornou o primeiro clube vegano do mundo, o que atraiu atenção, torcida, patrocínios e recursos.

A equipe foi campeã da 4ª divisão inglesa na temporada 2021/22. E já possui fãs até no Brasil. Sim, encontramos um torcedor do Forest Green, brasileiro que vive no Rio de Janeiro. É a história de Karl Campinha Werckmeister, que o Verminosos por Futebol entrevista abaixo.

“Lendo sobre o clube me identifiquei na mesma hora”

Verminosos por FutebolQuando tu ficou sabendo sobre a história do Forest Green?
Karl Campinha Werckmeister – Acredito que conheci o time em 2017, quando o portal Vista-se (maior portal vegano da América Latina) fez uma matéria relatando que o clube havia acabado de subir para a 4ª divisão inglesa, e o sucesso que ele estava fazendo. Lendo sobre o clube me identifiquei na mesma hora, e surgiu um carinho especial.

VerminososQual teu time de coração no Brasil? Está conciliando as duas torcidas atualmente?
Karl – Meu time de coração aqui é o Flamengo. As duas torcidas não competem para mim, dado que seria muito difícil os dois times se enfrentarem. Tenho carinho muito grande por ambos, sendo o Flamengo meu “time do coração” e o Forest Green um time que me conquistou e “o time que mais me representa hoje como pessoa”. Em uma situação hipotética (que hoje seria inimaginável) onde ambos os times se enfrentassem em uma final do Mundial de Clubes, eu ficaria bem dividido. Um lado meu diria que o Flamengo ganhando seria bom, pois é o time que sempre torci e ao mesmo tempo não seria nenhum demérito para o Forest Green essa derrota. Mas um outro lado diria que o Flamengo teria mais chances de chegar a outros mundiais e que um Forest Green campeão mundial teria uma importância imensurável para o debate de sustentabilidade e ética dentro do esporte. Como vegano ouço muitos questionamentos sobre a teórica queda de performance dos atletas ao não ingerirem insumos de origem animal, mesmo citando nomes veganos de sucesso nos esportes como a Marta, Carl Lewis, Lewis Hamilton ou as irmãs Williams. Então com muita dor no coração, talvez pela primeira vez na vida eu torceria pro Flamengo perder (mas só de meio a zero ou nos pênaltis).

VerminososQuando tu passou a torcer pelo time, o Forest Green estava em qual divisão inglesa?
Karl – Quando comecei a torcer pelo time, ele havia acabado de subir para a League Two (a 4ª divisão).

VerminososTu conhece outro brasileiro torcedor do time?
Karl – Não conheço outros brasileiros que torcem para o clube, mas lembro de já ter visto comentários de brasileiros nas redes sociais do time.

VerminososO clube sabe que possui torcedor inclusive no Brasil?
Karl – Nunca tive contato com ninguém no clube. Sobre terem torcedores no Brasil, além dos comentários de brasileiros nas redes sociais, tenho certeza de que sabem sim, porque:

1. Sendo sincero, ainda não é um clube que hoje se destaque mundialmente por conta do futebol, mas é muito conhecido pelo seu lado sustentável, a ponto de terem certificação da The Vegan Society (a própria ONG que criou o termo veganismo) como o primeiro time vegano de futebol do mundo e o único time certificado pelas Nações Unidas como “carbono neutro”;

2. A franquia de jogos de videogame Fifa permite que os usuários digam qual seu clube do coração. Como o Flamengo não está presente no jogo, sempre ponho o Forest Green e acredito que outros brasileiros façam o mesmo;

3. Já realizei uma encomenda do site deles para ser entregue aqui em minha casa. Comprei uma camisa (a qual presenteei meu amigo Jorginho O Lendário, sendo a milésima camisa da coleção dele) e um par de meiões para mim aproveitando o frete.

“O Forest Green é o time que mais me representa hoje como pessoa”. (Karl Campinha Werckmeister) 

VerminososTu tem artigos do time, por exemplo camisas?
Karl – Tenho só o par de meiões comprados junto com a camisa que foi presenteada. Pretendo comprar uma camisa para mim no futuro, mas quando o câmbio estiver mais amigável.

VerminososÉ possível assistir a jogos do time no Brasil, de alguma forma?
Karl – Infelizmente nunca consegui assistir uma partida do time. Nunca encontrei a transmissão ao vivo. Até fica a dica para as empresas de streaming transmitirem as divisões inferiores da Inglaterra. Lembro que quando cancelei a Dazn escrevi que, se passasse a League Two, eu voltava a assinar. Mantenho meu posicionamento.

VerminososEstá em planos ir à Inglaterra para ver um jogo do time?
Karl – Saí do Brasil apenas uma vez, e foi para a divisa do Uruguai com o Rio Grande do Sul, então nunca tive a oportunidade. Mas gostaria de assistir a um jogo deles sim, um dia caso eu visite o Reino Unido tentarei botar no itinerário. Ou caso eles venham fazer uma pré-temporada ou amistoso no Brasil, tentaria ir tranquilamente. Já fiz parecido para assistir a seleção alemã em Fortaleza na Copa do Mundo (desde 1998 torço para a seleção da Alemanha). Teria feito o mesmo também para a seleção de Cabo Verde (possuo descendência de ambos os países), mas essa é mais difícil ainda de ter oportunidade de assistir.

VerminososMe tira uma dúvida: o Forest Green tinha mais, menos ou igual relevância antes da adoção da política de sustentabilidade e vegana?
Karl – Em termos locais realmente não sei, acredito que sim. Já em projeção mundial pode não parecer, mas ganhou muito mais relevância. Entendo que as pessoas só torcem para um time pequeno de uma divisão menor se elas (ou a família) forem daquela cidade ou se o time representar algo bastante importante para elas. Esse é o caso do Forest Green Rovers. Muita gente se identificou, rompendo os limites territoriais por se ver representada na ideologia do time. É algo mais profundo do que “gosto do time X por ser azul”, “gosto do time Y porque Fulano joga lá” ou “gosto do time Z por que meus amigos torcem pra ele”. A definição de veganismo diz “o veganismo é uma filosofia que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra os animais – seja na alimentação, no vestuário ou em outras esferas do consumo” e é muito gratificante ver um clube de futebol emergindo cumprindo exatamente essa filosofia.

“É muito gratificante ver um clube de futebol emergindo cumprindo exatamente essa filosofia”. (Karl Campinha Werckmeister)

Cria uma identificação muito forte e autêntica com qualquer vegano ou entusiasta de sustentabilidade que goste de futebol. Além disso a filosofia do time cria um marketing muito forte para que mais pessoas conheçam o time. Por exemplo: quando ele começou a ser incluído no Fifa 18, chegou a render matéria de portais especializados em veganismo. Parece pouca coisa, mas uma matéria de um site que não é voltado a futebol, nem jogos eletrônicos, informando que um time específico da 4ª divisão inglesa vai começar a ser representado no Fifa mostra a importância que o clube começou a ter. Além disso, ele começou a ser citado em vários veículos, mesmo que como curiosidade. O próprio Verminosos por Futebol já citou ele em matérias anteriores, e possivelmente nunca teria mencionado o time se ele não tivesse passado pela adoção da nova política.

VerminososPelo que os últimos anos indicam, há cenário para atingir divisões mais acima?
Karl – Talvez leve uns 10 ou até mesmo 30 anos, mas acredito sim que o clube chegará à Premier League um dia. Vejo as questões ambientais tendo cada vez mais espaço nos noticiários e os debates estão ficando mais ricos, o que se reflete no crescimento do número de adeptos da filosofia vegana e, consequentemente, aumentando exponencialmente os possíveis fãs do time. E os torcedores são o maior patrimônio de um clube, então acredito de verdade em um crescimento sólido no médio/longo prazo.

“Uma matéria de um site que não é voltado a futebol, nem jogos eletrônicos, informando que um time específico da 4ª divisão inglesa vai começar a ser representado no Fifa mostra a importância que o clube começou a ter”. (Karl Campinha Werckmeister)

De qualquer forma, o clube não se limita a buscar resultados esportivos, mas sim se tornar um exemplo de que é possível aliar a paixão pelo esporte com a responsabilidade ambiental, passando pela ética com animais e sustentabilidade no sentido mais amplo do termo. Nesse sentido acho que merece até mais do que o Barcelona a alcunha “mais que um clube”. Entendo que o reconhecimento por isso já está acontecendo e se tornando cada vez maior, criando uma base sólida para o crescimento do clube tanto em seus objetivos ambientais quanto esportivos.

> O carioca Karl Campinha Werckmeister, de 37 anos, é analista da Casa da Moeda, no Rio de Janeiro. Seu Instagram: @karlwerckmeister.

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