Imagine um jogador fazer a primeira partida profissional somente aos 28 anos. E ainda marcar um gol no dia da estreia, logo no primeiro lance. Esse roteiro dos sonhos para qualquer peladeiro foi vivido pelo atacante Jorge, do Crato, que disputa o Campeonato Cearense.

Os estaduais estão na metade neste momento, mas esse jogador já é protagonista de uma das histórias mais fantásticas da temporada. Numa idade em que muitos atletas de futebol já estão mais próximos do fim da carreira do que o início, Jorge Batista de Sousa agora que inicia sua caminhada.

Nascido no Crato, cidade natal do Padre Cícero, Jorge era um conhecido goleador em peladas na região. Atuou por Mastruz com Leite e Vasco de Alto da Penha, o bairro onde mora. Com a crise do time local no início do Campeonato Cearense, o jogador foi convidado para teste. E acabou aprovado pelo técnico Roni Araújo.

“Trabalhei durante oito anos numa fábrica de chinelos. Como eu estava desempregado fazia três anos, foi uma boa oportunidade para quem sabe iniciar uma nova profissão”, conta Jorge, com contrato até o fim do Campeonato Cearense.

A estreia ocorreu contra o São Benedito, no dia 27 de janeiro. O palco, o estádio Mirandão, de sua cidade. Na arquibancada, a ex-mulher, a filha de quatro anos, outros familiares e amigos. Jorge entrou em campo aos 43min do 2º tempo. Dois minutos depois, conseguiu balançar a rede com apenas dois toques na bola.

“Foi uma alegria muito grande. Nunca tinha sentido aquilo”, relata Jorge. O jogador mora com a mãe. E, no momento, continua sem poder ajudar com as contas da casa, já que o contrato não prevê pagamento de salário. “Aceitei essa condição apostando em assinar um contrato depois”.

Foi uma alegria muito grande. Nunca tinha sentido aquilo”. Jorge, atacante do Crato, sobre o gol marcado no dia da estreia como profissional, logo no primeiro lance.

Mesmo sem ganhar dinheiro para jogar bola, o tratamento é o mesmo que recebem os outros atletas. Jorge treina todo dia e se concentra para os jogos. Até a eliminação do Crato, no fim de semana passado, foi relacionado em quase todas as partidas e entrou em campo no 2º tempo três vezes, também contra Tiradentes e Ferroviário.

O mais difícil tem sido acompanhar o preparo físico dos colegas. “É bem diferente do futebol amador, que é mais cadenciado”, compara. Mesmo assim, o atacante se vê jogando como profissional até os 40. “Sou conservado, não tenho físico de 28”.

Se ele vai ganhar fama, é difícil prever. Mas Jorge já escreveu as primeiras linhas de uma história que, independente do final, teve um início incrível.