Autor de página sobre o futebol da Coreia do Norte fez viagem ao país a convite do governo
O estudante de Jornalismo Lenan Menezes da Cunha participou de evento representando o Brasil
Quando lançou a fanpage Futebol na Coreia do Norte em 2014, Lenan Menezes da Cunha não imaginava que atrairia atenção do outro lado do mundo. Para sua surpresa, em pouco tempo ele receberia um convite do governo local para uma viagem ao país. A visita oficial não se deveu propriamente à página, mas a admiração pelo futebol norte-coreano trilhou o caminho percorrido.
Estudante de Jornalismo, Lenan foi tema de matéria do Verminosos por Futebol em 2017, quando tratou sobre o projeto único no Brasil: uma página de Facebook com cobertura dos clubes e da seleção da Coreia do Norte, um dos países politicamente mais fechados do mundo. Graças ao seu trabalho, ele acabou se aproximando de brasileiros com o interesse em comum.
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Fluente em coreano, o jovem de 19 anos entrou para o Centro de Estudos da Política Songun (Ceps), organismo brasileiro dedicado a disseminação da política Songun, o pilar militarista da Coreia do Norte. Seu papel seria, principalmente, traduzir obras para o português. Assim, o universitário tornou-se ainda mais uma espécie de embaixador da cultura norte-coreana no Brasil.
Principal data do país
A iniciativa teve seu reconhecimento. Lenan e o camarada Lucas Rubio, presidente e fundador do Ceps, viajaram ao país entre 4 e 13 de setembro, em meio às festividades dos 70 anos do governo socialista – instaurado três anos depois do fim da 2ª Guerra Mundial e da divisão da Coreia em duas, administradas pela União Soviética e pelos Estados Unidos.
Para Lenan, foi a oportunidade de conhecer uma nação diferente da retratada entre os países capitalistas. “A Coreia do Norte é longe de ser um inferno como infelizmente muitas pessoas pensam. Essa visão dualista é coisa infantil. Vi um país onde as pessoas são mais humanas, se importam uma com as outras, se ajudam, e vivem como um grande família”, descreve.
“A Coreia do Norte é longe de ser um inferno como infelizmente muitas pessoas pensam”. (Lenan Menezes da Cunha)
Passeio pelo país
Lenan fez um tour pelo país, que define como “muito lindo”, e teve o prazer de conhecer o estádio Primeiro de Maio Rungrado, na capital Pyongyang, o maior do mundo, com capacidade para 150 mil torcedores. De quebra, representou o Brasil no Seminário Internacional da Ideia Juche – ideologia de autossuficiência criada por Kim Il-sung, avô do atual líder Kim Jong-un.
Ficou, claro, um gostinho de quero mais. “Pretendo futuramente voltar à Coreia do Norte já como jornalista e realizar algum trabalho de pesquisa (e vivência, claro) em relação ao futebol”, aspira o universitário, morador de São Gonçalo (RJ). Nada mais justo para alguém que, através da bola, ajuda a difundir um país que fica a 18 mil quilômetros de distância.
“Foi um intercâmbio cultural muito bom”
Verminosos por Futebol – Como estão as atividades da fanpage Futebol na Coreia do Norte?
Lenan Menezes da Cunha – Depois da primeira entrevista, a página ganhou mais curtidas e seguidores, e mais pessoas passaram a acompanhar com certa frequência. Mas, com o passar do tempo essa “empolgação” com a página diminuiu um pouco, o que é normal. Mas pode-se dizer que atualmente a página é muito mais conhecida do que antes.Verminosos – Apareceram leitores com uma paixão ou interesse parecidos pelo futebol da Coreia do Norte?
Lenan – Apareceram algumas pessoas que gostam de futebol alternativo ou asiático em especial, principalmente. Mas devido às entrevistas, algumas páginas de esquerda compartilharam coisas, e acabou vindo gente que gosta de futebol e do país. Mas alguém que acompanhe assiduamente só alguns poucos.Verminosos – A visita ao país teve alguma relação com o Futebol na Coreia do Norte?
Lenan – Não exatamente. É sabido que tenho a página de futebol por eles, mas o que mais prezam é a divulgação de informações em português e da Ideia Juche no Brasil. Durante minha estada, ouvi comentários sobre minhas traduções de obras dos líderes para o português que nunca tinham sido traduzidas nem por eles ou por outros falantes da língua.“Durante minha estada, ouvi comentários sobre minhas traduções de obras dos líderes para o português que nunca tinham sido traduzidas”. (Lenan Menezes da Cunha)
Verminosos – Durante a viagem, quais os contatos que teve com futebol?
Lenan – Primeiramente, como fomos de trem de Pequim a Pyongyang, o que dura um dia, tivemos a oportunidade de conhecer dois norte-coreanos. Um falava inglês muito bem, disse gostar muito de futebol, perguntou bastante sobre o Brasil e demonstrou conhecer o futebol brasileiro. Também falei sobre o que conheço do futebol deles e ele ficou bastante surpreso. É torcedor do Saio (25 de abril). Depois na Coreia, tive a oportunidade de conversar com guias e com algumas outras pessoas que sabiam inglês sobre futebol. Os norte-coreanos gostam bastante de futebol. Tive também a oportunidade de ver o jornal esportivo do país e saber algumas informações que não conhecia. O estádio Primeiro de Maio é imponente, muito bonito. Foi perfeitamente feito para receber grandes espetáculos. Mas o achei um pouco menor do que se diz. Parece ter tido algum tipo de reforma que reduziu sua capacidade, mas continua sendo muito grande.Verminosos – E do país propriamente dito, o que achou? E o povo, mostrou-se simpático?
Lenan – É um país muito lindo. É uma experiência única conhecer o modo de vida do povo norte-coreano. Eles são muito simpáticos e organizados. Ficam muito felizes em ver admiração sobre algo de seu país por parte de alguém de fora, e não fogem de perguntas sobre o país, desde que não sejam ofensivas. Na viagem de trem, por exemplo, ficamos horas e horas conversando sobre variados temas. Foi um intercâmbio cultural muito bom.Verminosos – A viagem reforçou para ti a impressão de que a mídia ocidental exibe uma imagem caricaturesca do país?
Lenan – Sim. A Coreia do Norte é longe de ser um inferno como infelizmente muitas pessoas pensam. Essa visão dualista é coisa infantil. Vi um país que encara seus problemas sem medo e que se orgulha de cada passo que dá por suas próprias pernas. Um país onde as pessoas são mais humanas, se importam uma com as outras, se ajudam, e vivem como um grande família.Verminosos – Como tem sido fazer uma imersão na cultura de um país comunista num momento em que o Brasil vê um crescimento de ideologia de direita? Seja para o Ceps ou para o Futebol na Coreia do Norte, ocorrem perseguições ao trabalho?
Lenan – Pode parecer uma situação adversa para este tipo de trabalho, mas na verdade é o contrário. Não se pode esconder-se porque o que você acredita e defende é considerado “errado”. Sempre recebi xingamentos na internet, mas nunca passa disso, e no momento atual é natural que isso aumente. É um pouco chato esse tipo de coisa, que vejo muito nos meus trabalhos na internet, até mesmo na página de futebol, mas isso não tem nos afetado.Verminosos – Pretende voltar à Coreia do Norte no futuro?
Lenan – Pretendo futuramente voltar à Coreia do Norte já como jornalista e realizar algum trabalho de pesquisa (e vivência, claro) em relação ao futebol.Verminosos – Para finalizar falando de futebol, você acha que, com a ampliação da Copa do Mundo para 48 seleções, as chances de participação do país no torneio serão mais palpáveis?
Lenan – É uma grande chance para a Coreia do Norte retornar à Copa do Mundo. A equipe vem se renovando agora sob o comando do ex-jogador Kim Yong Jun, mas ainda não está em um bom nível ao meu ver. A Copa da Ásia em janeiro será um grande teste para essa equipe que acabou não conseguindo a classificação para a fase final da Copa do Leste Asiático no critério de desempate. Apesar de mais viável agora, a Coreia precisará suar muito a camisa para estar no Catar em 2022.> Leia o perfil do Verminosos por Futebol sobre a página Futebol na Coreia do Norte.
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