Como é ver um jogo do campeonato de Israel
O estudante de Jornalismo Amir Ribemboim Bliacheris conta como foi a experiência de um jogo do campeonato israelense
Por Amir Bliacheris
Em janeiro do ano passado, tive a oportunidade de ir para Israel. Eu, um jovem judeu de 19 anos, estava em minha primeira viagem internacional sem minha família. Graças a contatos de meu pai, consegui ir em um jogo do Hapoel Katamon Jerusalem, um time de esquerda em uma cidade sagrada.
Em 17 de janeiro de 2022, embarquei em uma série de 3 voos rumando Tel Aviv. Fiquei 29 horas em claro, mas cheguei em Eretz (um dos nomes que nós judeus damos a Israel). Nesta viagem, onde fiquei três semanas e meia lá, tivemos “dias livres”. Cada pessoa do grupo de viagem na qual estava poderia ir visitar algum parente ou amigo em Israel por uma noite e voltar a Yeshivá (uma espécie de escola de rabinos e local no qual fiquei hospedado).
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Chance de ver jogo
Na segunda semana, meu pai me deu o contato de André Wajnberg, um amigo de longa data e que aceitou me receber por essa noite na sua casa nos arredores de Jerusalém. As nossas conversas inevitavelmente foram parar no futebol. Ele, palmeirense, estava em momentos de alegria com o título da Copa São Paulo, que havia sido conquistado naquela semana.
No meio desta conversa, comentei que tentei abrir a passagem para ficar uns dias a mais em Israel e ir em um jogo de futebol lá, mas no final não consegui. Logo depois André me solta “o nosso time daqui de casa, o Hapoel Katamon, vai jogar amanhã, quer ir conosco? A gente te leva no jogo e já te deixa na Yeshivá depois!”. Falei que sim e logo depois André começou a me contar sobre a brava história de resistência e luta do Hapoel Katamon Jerusalem.
Era um time fundado pelos torcedores do Hapoel Jerusalém que discordavam da má gestão do clube e que fundaram uma nova agremiação com esse nome, em homenagem ao bairro original. Claro que tem muita história por trás, mas esse é um brevíssimo resumo que trago inicialmente sobre a equipe.
Rivalidade entre ideologias
O Hapoel é rival do Beitar Jerusalem, time da extrema direita do país, e tem em seus valores o objetivo de combater o preconceito. É um clube que une judeus e árabes em um time. Uma das coisas que me chamaram a atenção logo que entrei no estádio foi a quantidade de crianças e mulheres presentes no jogo. Algo que não se vê tanto aqui no Brasil. Por mais que tenha tido em torno de 3 mil pessoas no jogo, esse ambiente familiar me foi um ponto extremamente positivo!
O próprio André levou um de seus filhos, Amit, conosco. Tinha até bandeiras do movimento LGBTQIA+ nas arquibancadas do estádio Teddy Kollek. Isso é considerado “arriscado” em boa parte dos estádios brasileiros.
O nível do jogo em si foi bem fraco, o adversário era o Hapoel Beer Sheva, então vice-líder do campeonato. Enquanto o Hapoel Katamon ocupava a vice-lanterna da 1ª divisão israelense naquele dia 29 de janeiro. No fim do 1o tempo, Eugene Ansah, de cabeça, abriu o placar para os visitantes naquele que foi o único gol do jogo.
Estava muito frio no dia, então no intervalo fui na barraquinha do time e comprei toucas e cachecóis para mim e para familiares. Na estrada a caminho do jogo, vimos neve que tinha caído ao longo da semana para vocês verem o nível. O frio não me abalou e berrava o único grito que conheço em hebraico para apoiar a equipe “YALLAH HAPOEL KATAMON”, algo como “Vamos Hapoel Katamon”.
André ainda me traduziu um grito que a torcida mais concentrada à nossa esquerda cantava. “Vamo, vamo, vamo e quem tá gritando odeia o Beitar”. Essa experiência me marcou demais e me orgulho de ter ido em um jogo do campeonato israelense.
Como terminou
O Hapoel Beer Sheva acabou em 2º lugar daquele ano, enquanto o Katamon ficou como o primeiro fora da zona de rebaixamento, escapando da queda. Em Israel, apenas 2 times caem. O Hapoel ficou em 6º de 8 times no grupo de rebaixamento com 33 pontos, o Maccabi Petah Tikva fez 27 e acabou sendo rebaixado em 7º.
> O gaúcho Amir Ribemboim Bliacheris, morador de Porto Alegre, é um estudante de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
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