Floresta?! Conheça o time de Fortaleza que saiu do amadorismo e virou sensação
Após seis décadas no amadorismo, o Floresta estreia na elite cearense e na Copa do Brasil em 2018
Você vai ouvir falar muito sobre o Floresta em 2018. No ano passado, o time foi a maior surpresa do futebol cearense, mesmo numa temporada de acessos de Ceará e Fortaleza no Campeonato Brasileiro e do retorno do Ferroviário à Copa do Nordeste. Agora, o clube recém-profissionalizado prepara-se para a estreia na 1ª divisão do Campeonato Cearense e na Copa do Brasil. Será o ápice de uma trajetória pouco conhecida mesmo em Fortaleza, mas não no bairro Vila Manoel Sátiro, sede da equipe.
O Floresta foi profissionalizado em 2015, ao ser comprado pelo empresário Sérgio Teixeira, proprietário da Teixeira Tecidos, que já investiu no Ferroviário na década passada. Durante mais de meio século, o time se manteve no futebol amador, sendo um dos mais tradicionais de Fortaleza, até que foi vendido pela família Sátiro Santiago, pioneira no bairro.
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Onde tudo começou
A Vila Manoel Sátiro, situada entre os bairros da Maraponga e do Mondubim, recebeu o nome do advogado Manoel Sátiro, nascido em 1885 na cidade de União, hoje Jaguaruana. O cearense foi deputado estadual e adquiriu muitas terras na periferia de Fortaleza, tendo um sítio às margens da lagoa do Mondubim. Ao redor, a filha Noelzinda abriu um loteamento nos anos de 1940, dando início ao residencial que originou a Vila Manoel Sátiro.
O marido dela, Felipe Santiago, era apaixonado por futebol. Nas terras da família, o Sítio Floresta, ele construiu um campo e nele lançou um time, o Floresta Esporte Clube, fundado em 9 de novembro de 1954. Onze anos depois, em 21 de abril de 1965, a equipe dava seu maior salto até então: inaugurava um estádio, batizado de Manoel Sátiro, levantado pela Prefeitura de Fortaleza no terreno doado pela família, segundo reportagem do jornal O Povo na época.
O nome do estádio foi uma homenagem ao patriarca da família, que havia morrido em 1945, aos 60 anos, e que apesar de ter nomeado aquele bairro, foi oficialmente o criador de outro, que surgiu após um loteamento que abriu – a Vila União, em referência ao antigo nome da cidade onde nasceu.
A inauguração do estádio Manoel Sátiro exibiu o clássico entre Ceará e Fortaleza, que atraiu 6 mil torcedores. O Vovô venceu por 1 a 0, gol do atacante Charuto. Quando aberto, o estádio já contava com seus dois lances de arquibancada. “Era um dos melhores campos de Fortaleza”, relembra o ex-volante Mauro Calixto, do Ceará, presente no jogo.
“Era um dos melhores campos de Fortaleza”. (Mauro Calixto, que participou da inauguração do estádio Felipe Santiago)
A partida de abertura ocorreu mais cedo naquele mesmo dia, uma Sexta-Feira da Paixão, na preliminar do Clássico-Rei. Vitória do Floresta sobre o Riachuelo por 2 a 1, para alegria dos moradores da Vila Manoel Sátiro.
Em 1987, com a morte do fundador do time, o estádio ganhou o nome dele, resgatou o paulista José Renato Sátiro Santiago Júnior, neto de Felipe e Noelzinda, ao site Literatura na Arquibancada. “Na infância, quando viajava a Fortaleza nas férias, eu tinha um estádio no quintal”, relembra o escritor, em episódio da campanha Brasileiros de Coração, lançada pelo banco Itaú em 2014.
O time do bairro carregava as cores da seleção brasileira, que adotou o amarelo um ano antes de sua fundação. O primeiro escudo era inspirado no emblema da CBD, mas com as letras FEC. Nas duas mudanças que sofreu, o emblema copiou o Nottingham Forest, da Inglaterra, nos anos de 1990, e depois incorporou brasão semelhante ao do Ceará, no início desta década, como segue até hoje.
Neto do fundador do Floresta relembra Felipe Santiago:
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Antigo estádio do Floresta foi inaugurado em 1965 (Foto: Acervo José Renato Sátiro Santiago Júnior)
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Antigo estádio do Floresta foi inaugurado em 1965 (Foto: Acervo José Renato Sátiro Santiago Júnior)
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Primeiro escudo do Floresta, de 1954, foi inspirado no emblema da CBD (Foto: Reprodução Itaú)
Como foi a venda do clube
Posteriormente à construção do estádio da Vila Manoel Sátiro, a Prefeitura de Fortaleza devolveu a posse à família Sátiro Santiago, que efetivamente mantinha o espaço. A venda do clube e do terreno para Sérgio Teixeira, em 2014, acabou definida por Roberto Sátiro, um dos três filhos de Felipe e Noelzinda.
“A família ficou muito desgostosa depois que sem-terras invadiram o terreno, que não era murado”, resgata Everardo Alves de Sousa, o último presidente da era amadora e hoje supervisor contratado pela atual gestão. Com a venda do terreno ao empresário, o nome do clube acabou cedido também. Foi a salvação de um legado. “Seis meses depois, Roberto morreu”.
O investimento feito pelo novo dono no Floresta – que não teve valores divulgados ao Verminosos por Futebol – possibilitou uma revolução na sua estrutura. Teixeira construiu ao lado do casarão da família Sátiro Santiago um prédio-sede, com alojamento, concentração, academia e vestiários. Por segurança, o terreno de 65 mil m² foi cercado com muros.
“A venda do Floresta foi a sua salvação”. (Everardo Alves de Sousa)
As arquibancadas do estádio Felipe Santiago foram demolidas, e um dos campos foi desmembrado em dois – hoje são três oficiais e dois soçaites, agora todos gramados. “Existe o projeto da construção de um hotel no terreno”, adianta Kléber Lavor, dirigente com experiência no futebol de Juazeiro do Norte, contratado para tocar a gestão do clube.
O recente sucesso do Floresta despertou diferentes sentimentos na família, relata Adriano Santiago, um dos 11 netos de Felipe e Noelzinda e sobrinho de Roberto. Uns se mostram satisfeitos com o destino do time; outros tiveram um certo receio, talvez por não saberem como a sede anda bem cuidada, supõe.
“A invasão ao terreno apressou uma intenção da família de vendê-lo. No geral, a maioria ficou feliz com o encaminhamento dado ao clube, e também com esse bom momento”, reflete Adriano, analista de TI que hoje mora em Manaus com um braço da família.
Crescimento após a venda
A meta de Sérgio Teixeira era o Floresta chegar à 1ª divisão cearense em três anos. A tarefa acabou alcançada com louvor. Em 2015, o time foi vice-campeão da 3ª divisão e conseguiu o acesso. Em 2017, foi vice na 2ª divisão, e assim chegou à elite. A temporada mais brilhante, porém, reservava mais.
No segundo semestre, o Floresta surpreendeu na Copa Fares Lopes. Na final, bateu o Fortaleza, que precisava do título para assegurar vaga na Copa do Brasil no ano de seu centenário. Assim, o time da Vila Manoel Sátiro acompanhará Ceará e Ferroviário entre os cearenses na segunda maior competição do país.
Parêntese para uma curiosidade… A zebra foi uma ironia do destino, já que o Fortaleza tem laços distantes com o Floresta.
Manoel Sátiro era casado com Dona Zindoca, irmã do comerciante Alcides Santos, o fundador do Fortaleza, que dessa forma era tio de Noelzinda, a esposa do fundador do Floresta. Por sinal, o Riachuelo, time amador que a equipe venceu na inauguração de seu estádio, também fora fundado por Alcides Santos.
Veja fotos do antes e depois do terreno:
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Foto de 2012 – Entrada do clube ficava na rua São Lázaro (Foto: Google Maps)
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Foto de 2015 – Entrada da rua São Lázaro foi desativada (Foto: Google Maps)
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Foto de 2012, na Travessa da Lagoa – Exceto o estádio, o terreno não era murado (Foto: Google Maps)
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Foto de 2015, na Travessa da Lagoa – Após a venda, todo o terreno foi murado (Foto: Google Maps)
Melhor do que o esperado
“A temporada 2017 foi além das nossas expectativas”, admite Raimundo Vagner Rodrigues, o Raimundinho, técnico da equipe desde fevereiro passado. Mas esse sucesso em campo não era de todo imprevisível. Graças à estrutura garantida ao elenco e à comissão técnica.
“Em 10 anos como treinador, posso dizer que não há no interior do Ceará nada como o que o Floresta oferece”, garante Raimundinho. O ex-jogador Adriano Cearense, em visita ao clube, vai além. “Eu não vinha aqui fazia 20 anos. Hoje é outra coisa! Posso garantir que poucos times no Nordeste têm essa estrutura”, compara.
“Não há no interior do Ceará nada como o que o Floresta oferece”. (Raimundinho)
Com essa estrutura, o Floresta ganha condições de estar, entre os times da Capital, somente abaixo de Ceará, Fortaleza e Ferroviário, quem sabe acima de Uniclinic e Tiradentes e bem além dos pequenos Terra e Mar, Calouros do Ar, América e Maguary, hoje afastados de competições profissionais. Saberemos ao certo nas próximas temporadas, quando o Verdão da Vila se consolidar ou não na 1ª divisão estadual.
“Na comparação com os times do interior, sem dúvida estamos em vantagem, já que as prefeituras de Sobral e Juazeiro do Norte, por exemplo, as mais ricas, já não têm mais como gastar com futebol. Esse cenário de crise nos ajuda”, situa Kléber Lavor.
O clube não divulga sua folha salarial. Mas, possivelmente, só a participação na 1ª fase da Copa do Brasil (jogo contra o Botafogo-PB) já pagará com sobras os gastos no primeiro semestre de 2018. A cota da CBF será de R$ 500 mil, somando mais R$ 600 mil se o time chegar à 2ª fase.
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Everardo Alves de Sousa, o último presidente da era amadora e hoje supervisor (Foto: Rafael Luis Azevedo/Verminosos por Futebol)
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Raimundinho, o técnico que levou o Floresta à elite estadual e à Copa do Brasil (Foto: Rafael Luis Azevedo/Verminosos por Futebol)
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O Floresta tem hoje cerca de 100 jogadores nas categorias de base (Foto: Wilson Medeiros/Floresta)
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O Floresta tem hoje cerca de 100 jogadores nas categorias de base (Foto: Wilson Medeiros/Floresta)
Formação de atletas
A próxima meta do Floresta – chegar à Série D do Campeonato Brasileiro, ainda sem prazo especificado – é conciliada a um projeto sólido de formação de atletas. Atualmente, o clube mantém cerca de 100 jogadores nas categorias de base, além dos 30 do profissional. Cerca de 20 desses moram na própria sede, em apartamentos equipados.
O trabalho na base já rendeu dois títulos estaduais nesses três anos, em 2016 (sub-20) e 2017 (sub-17). A triagem de talentos para as categorias de base conta ainda com escolinhas para a garotada da região da Vila Manoel Sátiro. Atualmente, são 175 meninos nas aulas, com mensalidade de R$ 50.
No passado amador, muitos jogadores do Floresta viraram profissionais. O mais consagrado deles foi o volante Dudu Cearense, que se profissionalizou no Vitória e depois vestiu a camisa da seleção brasileira. Da família fundadora, destaque também para o atacante Fernando Sátiro, sobrinho de Noelzinda, que chegou ao São Paulo na virada entre as décadas de 1950 e 1960.
“O desejo da gente, agora com toda essa estrutura à disposição, é formar muitos mais jogadores”, espera Everardo Alves de Sousa. Para quem conheceu o antes e o depois, o céu é o limite.
Veja a estrutura atual do clube:
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Sede do Floresta conta com 65 mil m2 (Foto: Rafael Luis Azevedo/Verminosos por Futebol)
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Sede do Floresta conta com 65 mil m2 (Foto: Rafael Luis Azevedo/Verminosos por Futebol)
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Sede do Floresta conta com 65 mil m2 (Foto: Rafael Luis Azevedo/Verminosos por Futebol)
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Sede do Floresta conta com 65 mil m2 (Foto: Rafael Luis Azevedo/Verminosos por Futebol)
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Sede do Floresta conta com 65 mil m2 (Foto: Rafael Luis Azevedo/Verminosos por Futebol)
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Sede do Floresta conta com 65 mil m2 (Foto: Rafael Luis Azevedo/Verminosos por Futebol)
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Sede do Floresta conta com 65 mil m2 (Foto: Rafael Luis Azevedo/Verminosos por Futebol)
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Sede do Floresta conta com 65 mil m2 (Foto: Rafael Luis Azevedo/Verminosos por Futebol)
Perfil:
Nome: Floresta Esporte Clube.
Apelido: Verdão da Vila.
Fundação: 9 de novembro de 1954 (profissionalizado em 2015).
Endereço: Travessa Calçadão da Lagoa s/n, Vila Manoel Sátiro, Fortaleza, do lado oposto ao Cuca do Mondubim nas margens da lagoa do Mondubim (a entrada da rua São Lázaro, 99, foi desativada).
Contatos: 85-3484.4319, 85-98738.0681 e 85-98757.9966.
Redes sociais: Facebook, Twitter e Instagram.
Títulos: Copa Fares Lopes de 2017, Cearense Sub-17 de 2017 e Cearense Sub-20 de 2016. Vice da 2ª divisão do Cearense em 2017 e vice da 3ª divisão do Cearense em 2015.Acesso – A sede do Floresta fica a 11 km a sudoeste da praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza, na direção da cidade de Maracanaú. O clube fica do lado oposto à linha do metrô Sul que passa por trás do Detran-CE e do Carrefour da Av. Godofredo Maciel. Nos fundos, na rua São Lázaro, há uma parada de ônibus da linha 363, Vila Manoel Sátiro/Centro. Também é possível descer na estação Manoel Sátiro do metrô, anterior ao clube, ou Mondubim, posterior.
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