Jornalista do Esporte Interativo já foi jogador
Bruno Formiga passou um mês como jogador do Maguary, da 3ª divisão cearense
Os números na batata da perna parecem um registro de presidiário. Quem é jogador profissional, porém, talvez perceba à primeira vista. Trata-se de um código do Boletim Informativo Diário (BID), da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Herança da maior experiência profissional de Bruno Formiga, comentarista dos canais Esporte Interativo.
Nascido em Fortaleza, o jornalista teve a oportunidade de passar 45 dias como jogador do Sport Club Maguary, da 3ª divisão cearense, em 2012. Já beirando os 30 anos, sua vivência seria mote de uma série diária de reportagens ao longo de um mês no jornal O Povo, para quem trabalhava. A ideia era revelar os bastidores de um futebol longe dos holofotes.
Não faltaram bons causos. “Uma vez, quando os garotos do sub-20 foram cobrados por terem perdido de goleada, um deles retrucou: ‘Professor, fomos para o jogo com fome. Muita gente aqui tinha apenas um refrigerante e bolacha recheada’. Foi chocante”, relembra o jornalista, profissionalizado no futebol com o número 426.357.
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Desde o início apresentado como repórter, Formiga conta que a recepção do elenco foi excelente. “Foi uma sintonia bacana”, relembra o comentarista, que se habituou fácil às rotinas de elenco, como a convivência em vestiários. “Nunca fiquei envergonhado. Mas tomava banho de sunga…”
Peladeiro de fim de semana, Formiga foi relacionado para seis jogos, e entrou em campo quatro vezes. O meia não fez gol, mas foi bem avaliado pelo técnico Alexandre Albuquerque. “Sou realizado com o que faço, mas fica aquela pontinha de frustração por não ter tentado mais a vida no futebol”, confidencia. Temporariamente, ao menos, ele realizou um sonho de tantos.
Confira abaixo entrevista com Bruno Formiga.
“Melhor experiência da minha carreira”
Verminosos por Futebol – Como você conciliou a rotina de treinos no Maguary e a produção dos textos sobre a vivência como jogador?
Bruno Formiga – Os treinos eram sempre à tarde. Variavam, dependendo da disponibilidade do campo. Aconteciam entre 14h e 16h. Não era tão cansativo porque criei um cronograma de pautas. Dificilmente o texto do dia seria o publicado na edição seguinte. Deixava muita coisa na gaveta, já no ponto. O projeto inicial eram 30 dias, mas acabei ficando 45.
Verminosos – Os jogadores foram comunicados de imediato que você era jornalista?
Formiga – Todos ficaram sabendo desde o início. E não houve resistência alguma. A recepção foi excelente. Fiquei bem à vontade. Eles parecem ter enxergado bem mais como uma oportunidade do que uma intromissão.
Verminosos – O treinador te garantiu algum tratamento diferenciado?
Formiga – Não senti tratamento diferente. Fiz treinos físicos e obedeci horários como todos. Naturalmente houve uma aproximação pela facilidade na comunicação e pelo papel que eu exercia ali. Mas nada com interesse. Fui relacionado para seis jogos e acabei entrando em quatro deles. Não fiz gol, mas cheguei perto.
“A recepção foi excelente. Os jogadores parecem ter enxergado bem mais como uma oportunidade do que uma intromissão”.
Verminosos – Como era a estrutura da 3ª divisão cearense?
Formiga – Bastante precária. Tudo beirando o amadorismo. Era como torneios de várzea, com a diferença de ter a chancela de uma federação e valer acesso oficial de divisão.
Verminosos – Quais as histórias mais engraçadas que você viveu?
Formiga – A história mais curiosa, não necessariamente engraçada, foi quando os garotos do sub-20 foram cobrados por terem perdido uma partida de goleada e um deles retrucou: “Professor, fomos para o jogo com fome. Muita gente aqui tinha apenas um refrigerante e bolacha recheada”. Foi chocante. Dura realidade.
Verminosos – Você se sentia à vontade com algumas coisas da rotina de elenco de futebol, como vestiário?
Formiga – Os garotos eram legais demais. Gente humilde, querendo espaço. Parecia que conhecia a maioria de muito tempo atrás. Foi uma sintonia bacana. Nunca fiquei envergonhado. Mas tomava banho de sunga…
Verminosos – E o número de BID na perna… As pessoas costumam confundi-lo com algo?
Formiga – Foi uma ideia do meu atual chefe, Fábio Medeiros, diretor de conteúdo do Esporte Interativo. Eu estava contando a experiência para ele, falando do orgulho de ter assinado um contrato e ele sugeriu: “Tatua esse número”. Isso foi em 2014. As pessoas brincam que é registro de presidiário, perguntam do que se trata, mas depois curtem a versão que explica o desenho.
“Os garotos eram legais demais. Gente humilde, querendo espaço”.
Verminosos – A experiência como jogador profissional mudou teus conceitos como repórter e comentarista esportivo?
Formiga – Demais. Futebol é um entretenimento para muita gente e sobrevivência para outros tantos. Vai muito além de um esporte. É oportunidade de mudar a realidade. Jogador joga para si, não para o time. Primeiro cada um precisa se virar em busca de trabalho, de contratos.
Verminosos – Você recebeu muitos retornos pela reportagem com pauta diferente?
Formiga – Recebi sim. Dei entrevista à rádio Bandeirantes e para algumas revistas. E vi muitas críticas positivas em redes sociais. O feedback foi ótimo. Jornalismo que fugiu do lugar comum. Melhor experiência da minha carreira.
Verminosos – No teu caso, a experiência privilegiada minimizou a sensação de alguns jornalistas esportivos, de ter não concretizado um sonho de ter sido jogador?
Formiga – Foi um prazer enorme, sem dúvida. Sou realizado com o que faço, mas no fundo fica sempre aquela pontinha de frustração por não ter tentado mais a vida nos campos. Não teria feito feio.
Blog de Bruno Formiga:
esporteinterativo.com.br/blogs/blog-do-formiga
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Tatuagem do BID na perna de Bruno Formiga chama a atenção de quem a vê (Foto: Acervo pessoal)
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Time do jornalista foi eliminado na 2ª e antepenúltima fase da 3ª divisão (Foto: Acervo pessoal)
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