Marilena, 1ª árbitra e repórter esportiva
Se o futebol hoje em dia ainda é machista, imagine há três décadas. Uma mulher no apito, para muitos, era […]
Se o futebol hoje em dia ainda é machista, imagine há três décadas. Uma mulher no apito, para muitos, era algo chocante. Por isso o jogador não pensou duas vezes quando sofreu cartão amarelo. Baixou o calção e, sem pudor, urinou em campo em protesto contra a juíza de 20 e poucos anos. Esse é um dos causos vividos por Marilena Lima, a primeira árbitra e repórter esportiva do Ceará.
A cena aconteceu na praça da Granja Portugal, periferia de Fortaleza, por volta de 1984. No momento causou repulsa, hoje é motivo de graça. “Só me restou expulsá-lo e o jogo continuou”, relembra a jornalista. Mas antes de impor autoridade com o apito, era com o microfone que Marilena galgava espaço para mulheres em terrenos dominados por homens.
No início da década de 1980, Marilena ganhou fama no jornalismo cearense por ser a única mulher a cobrir futebol. Foi a rádio Dragão do Mar quem bancou a ousadia. Na época, isso representava um problemão, já que as entrevistas aconteciam no vestiário dos estádios, com jogadores de toalha ou mesmo nus.
“Quando eu chegava, perguntava se podia entrar. Meus colegas de imprensa me ajudavam. No máximo atrasava um pouco a minha entrevista, já que os repórteres homens iam até o espaço de banho dos atletas”, conta Marilena. “O pessoal me recebeu bem”.
O mesmo não se pode dizer da cartolagem, quase sempre avessa a novidades. “Os dirigentes de clubes me olhavam meio atravessado. Chegou a haver uma tentativa de interferência por parte do presidente da Federação Cearense de Futebol (FCF), coronel Barroso, questionando o fato das entrevistas em vestiários”, relata.
Apesar da marcação cerrada, Marilena conseguiu atuar nos três grandes clubes de Fortaleza. Participou de coberturas marcantes, como uma entrevista a Telê Santana, técnico da seleção brasileira. “Eu entendia de futebol, jogava uma vez por semana com uma turma de mulheres que se reunia numa quadra atrás da antiga Rodoviária dos Pobres, no Antônio Bezerra”.
Quando eu chegava (ao vestiário), perguntava se podia entrar. No máximo atrasava minha entrevista, já que os repórteres iam até o espaço de banho dos atletas”. Marilena Lima.
Faltava saber mais sobre as regras do jogo. Por isso, Marilena se inscreveu em curso de arbitragem, o primeiro com espaço para mulheres. “De cinco, se formaram apenas duas. Na conclusão, veio o Arnaldo Cesar Coelho”, lembra, citando o árbitro da final da Copa do Mundo de 1982.
Como não havia completado o ensino médio, Marilena não recebeu o diploma definitivo. “Em vim do interior e o acesso à escola era complicado”, explica Marilena, nascida em Solonópole, criada em Acopiara. Não foi possível apitar no Campeonato Cearense. A alternativa foi o subúrbio, além do torneio intermunicipal da associação dos cronistas esportivos.
Marilena não tinha familiares por perto para reprovar as jornadas futebolísticas. Quando casou com um militar, porém, ficou difícil seguir na arbitragem. “Ele não entendia bem a participação feminina em atividades pouco comuns”, lamenta.
Eu entendia de futebol, jogava uma vez por semana com uma turma de mulheres que se reunia numa quadra atrás da antiga Rodoviária dos Pobres, no Antônio Bezerra”.
Tanta exposição, nos gramados e no rádio, rendeu frutos. Marilena migrou da Dragão do Mar para a Uirapuru. Passou ainda por AM do Povo e Verdes Mares. O futebol deixou de ser trabalho definitivamente. Ela acabou requisitada para uma área do jornalismo que crescia, a policial. Indicada em 1990 para o Barra Pesada, da TV Jangadeiro, ajudou a formatar o padrão que hoje é repetido por inúmeros programas do gênero. Marilena sempre foi pioneira.
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