Mudanças na Libertadores indicam processo de pasteurização por parte da Conmebol
Em artigo para o Verminosos por Futebol, leitor questiona novidades que a Conmebol implementou
Por Bruno Martins
No início de março, me encontrava assistindo ao confronto da Copa Libertadores da América entre Rosário Central, da Argentina, e o Grêmio de Porto Alegre. Junto ao meu pai, um detalhe nos despertou atenção, já no último quarto do jogo. Dirigi meu olhar ao canto superior da tela a fim de conferir quanto tempo já havia corrido.
Olhei e, então, observei algo que não me era familiar; a marcação do tempo de jogo, o estranhamento foi inevitável. A contagem de tempo em 90 minutos, e não dois tempos de 45 minutos, me provocou uma indagação que viria a uma triste e fatídica conclusão: nosso campeonato fora vendido.
A contagem até 90 minutos, ao invés da bipartição em dois tempos é, sim, um detalhe, mas passa longe de ser um pormenor.
A alteração adotada pela organização do campeonato é mais uma evidência (clara e explícita) de que o futebol do continente cada vez menos visa a satisfação e compreensão do público sul-americano. Hoje é possível detectar uma notória deturpação de identidade da Libertadores, um patrimônio continental, em prol da comercialização da mesma.
As recentes mudanças, adotadas pela Conmebol, para a maior competição de futebol do continente, desconfiguram uma identidade criada e desenvolvida, endêmica do público e consciente do coletivo latino-americano. A busca por tornar a Libertadores análoga às competições europeias já deixou de ser uma coisa bastante explícita, que toda e qualquer cultura ímpar do continente, no tratar do futebol, está posta à prova.
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Transmutações abruptas
No pacotão de mudanças apresentadas pela Conmebol, existem mudanças sutis e minuciosas, mas as transmutações abruptas também se fazem presentes. Dentre estas mudanças, cito (novamente) a contagem de tempo em 90 minutos, bem como os torcedores elegerem o melhor da partida com a hashtag “#BestOfTheMatch” e, por fim, a final em jogo único (e, em 2018, sendo decidida em Madrid).
Essas e outras mudanças explicitam um lamentável comportamento de submissão, que atinge o futebol do continente de modo agressivo, onde, por meio de minuciosidades e sagacidades da Conmebol, se estampa um código de barras na camisa do futebol latino-americano.
E os maiores prejudicados serão, evidentemente, os torcedores, pois são eles que terão a tradição quebrada e vendida. Quando seu time chegar a final, ele não poderá torcer no próprio estádio, e quando eleger o melhor da partida, não utilizará seu idioma.
O problema maior de tudo isso acontecer nem são as mudanças em si, que em outros contextos podem, sim, serem interpretadas de outras formas. O que preocupa é a imposição, é ter que engolir que todas essas mudanças aconteceram e vão continuar a acontecer, pois o compromisso da Conmebol não é conosco, o compromisso da confederação é com o estrangeiro.
Torcedor, se adestre, pois sua dona, a Conmebol, te vendeu.
> Bruno Martins, de 19 anos, mora em Florianópolis e é estudante de Geografia na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
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