Relembre a última entrevista de Pintado
O goleiro Pintado, um dos maiores ídolos do Ceará Sporting Club na primeira metade do século passado, faria 100 anos […]
O goleiro Pintado, um dos maiores ídolos do Ceará Sporting Club na primeira metade do século passado, faria 100 anos em 2014. Para marcar a data, o professor universitário Adhemar Nunes Freire Filho, primogênito do ex-jogador, lançou uma biografia sobre o pai. “Pintado – A escalada de um campeão” resgata a vida do cearense que defendeu o time de coração por quase duas décadas.
Campeão estadual em 1931, 1932 e 1948 e um dos pioneiros do futebol nordestino a atuar no Rio de Janeiro, por Botafogo e Madureira, o ex-jogador morreu em 2009, após três anos em luta contra o mal de Alzheimer. Segundo a família, a última entrevista de Pintado foi concedida ao autor do Verminosos por Futebol, em 2006, para matéria que acabou não sendo publicada pelo jornal O Povo.
O relato, inédito, só foi para as rotativas em 3 de agosto de 2009, dia seguinte a morte de Pintado. Confira abaixo.
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Pergunta – O senhor chegou a jogar numa época em que ainda não havia o profissionalismo, que só veio na década de 1930. Naquela época, o futebol cearense era muito diferente de hoje?
Pintado – Era tudo muito amador. Não há mais futebol como naquela época. Você jogava porque gostava. Muitos atletas saíam dos colégios, como foi o meu caso. Jogava pelo time da escola (Marista Cearense), sempre como goleiro. Hoje, o futebol perdeu aquela graça, é tudo muito profissional, sério demais.
Pergunta – O senhor recebia salários dos clubes?
Pintado – Eu recebia dinheiro para jogar. Não era como é hoje, mas dava para me manter.
Pergunta – A maioria dos jogadores de hoje vem de famílias pobres. Como era antigamente?
Pintado – Os jogadores vinham de origem variada, mas havia muitos de classe alta. Estes vinham dos colégios. Os outros não, começavam a jogar na rua e depois passavam para os clubes.
Pergunta – Qual o motivo do seu apelido?
Pintado – Me deram por causa das minhas sardas.
Pergunta – O senhor chegou a jogar quando ainda nem existia o PV, inaugurado em 1941. Jogar no campo do Prado era muito diferente?
Pintado – No Prado era muito empoeirado. Antes do jogos, molhavam o campo com uma mangueira para que a gente pudesse jogar. Melhorava e não ficava lama.
Pergunta – Entre as décadas de 1930 e 1940 já havia a rivalidade entre Ceará e Fortaleza?
Pintado – O Maguary é que era o principal rival do Ceará até parar (em 1945, voltando depois entre os anos de 1972 e 1975). Era o mesmo que acontece hoje entre Ceará e Fortaleza. O Maguary era o time dos ricos e a rivalidade era com o Ceará, popular.
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Pergunta – Mas chegava a haver brigas ou algo próximo disso, como vemos hoje?
Pintado – Não. Havia desentendimentos, rixas, mas nada muito sério. De qualquer forma, a gente sempre evitava participar desses acontecimentos. A gente procurava manter uma certa distância daquilo que acontecia entre torcedores e dirigentes adversários.
Pergunta – O senhor chegou a jogar fora do estado, no Rio de Janeiro. O futebol lá era mais avançado do que aqui?
Pintado – Eu fui para o Rio de Janeiro e joguei no Botafogo e no Madureira. O futebol, lá, era mais avançado, tinha muitos bons jogadores.
Pergunta – O senhor torcia para algum clube?
Pintado – Eu sempre torci Botafogo. Aqui, sou Ceará.
Pergunta – O senhor possui 91 anos (na entrevista realizada em 2006), sendo apenas três meses mais novo que o Ceará. Como é a sua relação com o clube, do qual é considerado um dos maiores jogadores da história?
Pintado – Nasci no ano que surgiu o Ceará: 1914. É muito bom saber que joguei no time que torço. Sempre gostei muito do Ceará e é um prazer fazer história nele.
Pergunta – Impressiona o fato de que, observando suas fotos nas equipes do Ceará mesmo na década de 1930, o senhor mantém uma fisionomia muito próxima de quando ainda era jogador.
Pintado – Eu praticava outros esportes além de futebol, sempre gostei. Tem até uma história curiosa. Eu tinha uma casa na praia, próximo ao (Clube dos) Diários (encerrou suas atividades na avenida Beira Mar em 2003), e, uma vez, quando estava andando na areia, salvei a vida de um homem que vi se afogando. Sempre gostei de nadar, de praticar esportes.
Pergunta – O senhor ainda acompanha futebol?
Pintado – Fui a estádios poucas vezes.
> Ao deixar o futebol profissional, Adhemar Nunes Freire formou-se em Educação Física e Letras. Na faculdade, continuou a jogar, sendo campeão brasileiro pelas seleções carioca e cearense. Foi também preparador físico e técnico. Quando deixou a bola definitivamente, virou professor de Inglês e chegou a ser diretor de escolas de Fortaleza.
Lançamento do livro “Pintado – A escalada de um campeão”:
Nesta sexta-feira (12), às 19h30, no Náutico, na Av. Abolição, 273. Preço: R$ 40.
Clique no link e leia também:
www.verminososporfutebol.com.br/papo-serio/14-curiosidades-sobre-o-centenario-ceara
3 respostas para “Relembre a última entrevista de Pintado”
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Sou sobrinho desse grande goleiro,,ele era baixo mas pegava muito..José arilton Nunes freire
A Entrevista foi boa mas faltou tanta coisa linda da vida do Sr. Adhemar. Não foi dito que ele se casou com a Da. Aurora, que teve 5 filhos e nao sei quantos netos, que era apaixonado por rádio amador e que tinha um carro que ele não se desfazia por nada. Alem disso não foi dito q ele era um homem de um temperamento fantástico. Paciente, calmo, tranquilo e muito sereno. Uma pessoa admirável demais.
Oi Conceição, foi questão de espaço, pois originalmente foi publicada em jornal impresso. Fica o registro então. Um abraço!