TCC investiga os motivos do sucesso do futebol universitário dos Estados Unidos
O jornalista Victor Caselli resume seu livro-reportagem, que revela a discrepância entre EUA e Brasil no futebol universitário
Por Victor Caselli
Uma das maiores preocupações de um estudante universitário é o Trabalho de Conclusão de Curso. Não lembro quando nem como foi que escolhi o tema do meu TCC, mas sei que demorou alguns semestres. Falava com meu professor-orientador que queria fazer algo sobre futebol, mas não tinha ideia do que, exatamente. Ele sugeria “ir do macro para o micro”, recortando o tema e trabalhando em algo específico.
Quebrei a cabeça por meses até decidir falar sobre futebol universitário. Era algo que estava presente no meu dia a dia, seria fácil conseguir as fontes e um assunto que me interessava muito. Inclusive, tentei entrar para o time de futebol da faculdade, mas não passei no teste, na popular peneira.
Como meu professor-orientador tinha bons contatos na área e eu também conhecia algumas pessoas no âmbito universitário que praticavam futebol tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, acabei optando por comparar o esporte bretão das universidades norte-americanas com as brasileiras. Meu trabalho final do TCC foi um produto escrito, o livro-reportagem “Futebol Universitário: Brasil x Estados Unidos”. A seguir, conto um pouco mais sobre o conteúdo produzido.
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Diferenças entre os dois países
Minha ideia com o tema era apontar as diferenças entre o futebol universitário nos dois países e mostrar como o modelo norte-americano pode servir de exemplo para o Brasil, já que o esporte universitário nos Estados Unidos é muito popular, movimenta bilhões de dólares anualmente e também serve de base para as ligas profissionais, revelando jovens talentos em diversas modalidades, através do famoso draft.
No primeiro capítulo, optei por abordar mais a parte teórica do tema, não só do futebol, mas do esporte universitário como um todo. Começo com uma breve introdução sobre a origem do esporte universitário, sua história nos dois países comparados e uma linha do tempo com as principais datas.
Na fase de pré-produção, entrei em contato com algumas fontes para contextualizarem o esporte universitário brasileiro e darem sua opinião sobre o tema. O ex-treinador da seleção brasileira de futebol universitário Nicolino Bello Júnior, o presidente da Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU), Luciano Cabral, e o presidente da Associação Brasileira de Desporto Educacional (Abrade), Georgios Hatzidakis, foram unânimes em dizer que falta apoio e planejamento para o esporte universitário no Brasil. Também concordaram que, em comparação com os EUA, o Brasil, apesar de ter talento e potencial, fica muito atrás, como se fossem “amadores x profissionais”.
É evidente a importância, sobretudo econômica, do esporte universitário nos Estados Unidos. Uma tabela da Revista Forbes, que adicionei ao livro, mostra quanto as principais universidades norte-americanas arrecadaram e gastaram com o futebol americano na temporada 2011/2012. Para se ter uma ideia da quantidade de dinheiro movimentada, a Universidade do Alabama teve uma receita de 81 milhões de dólares e gastos de 37 milhões – líder em ambos os quesitos – com o futebol americano em um ano.
Outro dado que reflete a magnitude financeira desse mercado nos EUA é o quanto a maior organização esportiva universitária do país, a NCAA (National Collegiate Athletic Association), movimentou em 2014: lucrou 1 bilhão de dólares e doou 3 bilhões em bolsas de estudo através do esporte.
Mas este modelo não é só bem sucedido nas cifras. Esportivamente falando, é nítido o retorno para os norte-americanos: 440 dos 555 atletas convocados para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, disputaram alguma modalidade a nível universitário. O número corresponde a 79% dos atletas, que passaram pela equipe de alguma faculdade dos Estados Unidos enquanto estudavam.
Viagem aos EUA
Para entender melhor o desenvolvimento do esporte no país norte-americano, fui até a Martin Methodist College, localizada na pacata cidade de Pulaski, no sul do estado do Tennessee. Um amigo da escola, Lucca Shimanuki, estava estudando lá na época e era goleiro da equipe de futebol da faculdade. Fiquei hospedado em sua casa e pude ver de perto um pouco da rotina dos alunos/atletas.
No segundo capítulo do livro, explico mais a fundo como funciona o college socccer, com importante relato de Joe Zakowicz, presidente da Associação de Treinadores de Futebol Masculino da Naia (National Association of Intercollegiate Athletics), a segunda liga universitária mais importante do país, atrás somente da NCAA. Além disso, cito as regras, as ligas, as divisões e o que um aluno deve fazer (dentro e fora de campo) para entrar e se manter no time da universidade. Em seguida, foco na Martin Methodist, fazendo um perfil da faculdade, com fotos, entrevistas e relatando de uma forma detalhista e humanizada os personagens dos Redhawks, alcunha da MMC.
A Martin Methodist tem tradição no futebol. Em 2013, o time masculino da faculdade conquistou o título nacional da Naia, o que rendeu boas entrevistas com alguns dos jogadores campeões. Em 2005 e 2007, a equipe de futebol feminino também conseguiu tal façanha – curiosamente, nas três ocasiões, o treinador foi o irlandês Gerry Cleary.
Vale destacar a força que o futebol feminino possui nos Estados Unidos – a seleção norte-americana já conquistou três Copas do Mundo e quatro Olimpíadas. A Martin Methodist, por exemplo, recebeu talentos de nível mundial como a costarriquenha Fabíola Sánchez Jiménez, que disputou o Mundial de 2015 no Canadá, e a brasileira Millene Cabral, que atuou profissionalmente no Japão e hoje se encontra no Sporting Gijón, da Espanha.
Dificuldade brasileira
No terceiro e último capítulo, mostro as dificuldades do futebol universitário brasileiro, principalmente pela falta de políticas públicas e investimento. Segundo Luiz Ribeiro, coordenador de esportes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a faculdade destina de R$ 15 mil a R$ 25 mil por ano para o futebol universitário. Uma quantia irrisória se comparada com os dados das faculdades norte-americanas, como os citados acima pela revista Forbes.
Também entrevisto Norton Romani, que jogava pelo time do Mackenzie enquanto estudava Publicidade e Propaganda. Entretanto, ao contrário do que acontece com os alunos/atletas norte-americanos, Norton não recebia bolsa de estudo.
É importante ressaltar que, nos EUA, para poder ser um atleta universitário o aluno deve ter boas notas. Ou seja, conciliar o desempenho acadêmico com o esportivo. Se no futuro ele se tornar atleta profissional, o “investimento” da faculdade terá valido a pena, já que muitos deles dão retorno financeiro às instituições onde estudaram. Além disso, serão atletas e cidadãos com uma base educacional sólida. Caso não sigam a carreira profissionalmente, têm um diploma para se dedicarem a outras áreas.
A maioria dos atletas profissionais das principais ligas norte-americanas estudou na universidade. Já no Brasil, segundo dados do Globo Esporte, apenas 15 dos mais de 600 jogadores da Série A do Campeonato Brasileiro de 2016 começaram algum curso a nível universitário. Mais uma prova da diferença abissal entre o modelo de revelação de talentos, do nível intelectual dos atletas e da qualidade da educação superior dos dois países.
> O jornalista Victor Caselli, formado na Universidade Presbiteriana Mackenzie e pós-graduado em Jornalismo de Viagens pela Universidade Autônoma de Barcelona, é autor dos livros “Futebol Universitário: Brasil x EUA”, “Ayakkabi” e “Crônicas de Viagem” e cofundador do blog de viagens porsuszapatos.com. O TCC sobre o futebol universitário foi apresentado em 2016.
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