#FutebolAtrásDasGrades #2 – Presídio do Ceará promove torneio de futebol para socialização de presos
O Cepis, de Itaitinga, realiza torneio com 180 presos que representam os pavilhões do presídio
Por Larissa Cavalcante e Rafael Luis Azevedo
Eles ficam esperando o chamado ansiosamente. Quando as grades se abrem, não é a liberdade, mas é como se fosse. Chegou a vez de esses detentos deixarem as celas para jogar bola na quadra coberta do presídio, no campeonato de futebol de salão do Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne (Cepis), em Itaitinga, a 27 km de Fortaleza.
Duas vezes por semana, às terças e quintas pela manhã, os presos disputam o torneio interno, cuja 1ª edição está sendo realizada entre os meses de maio e junho. Ao todo, 180 detentos foram divididos em 36 times de cinco atletas. As equipes foram escolhidas por eles mesmos, representando as 180 celas e nove pavilhões da penitenciária, a maior do Ceará.
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Exatos 10% da população carcerária do presídio, hoje em 1.800 presos, participam das disputas – os demais não ficam na “torcida”, por questões de segurança e de infraestrutura da quadra. “O esporte é tão importante quanto práticas como educação e trabalho para o nosso bom funcionamento interno”, destaca Lissandro Moreira, diretor-adjunto do Cepis.
Os jogos ocorrem nas datas reservadas à educação física. Os próprios presos sugeriram a realização do torneio. A condição para a participação, o bom comportamento do detento, garantiu o apoio da direção do presídio e dos agentes prisionais. “Se houver qualquer penalidade na vida no presídio, o atleta é desligado e dá lugar a outro”, alerta Lissandro.
Inaugurado em novembro de 2016, o Cepis reuniu presos de diversos presídios do Ceará – e de diferentes periculosidades. Há homens que cumprem pena por cometerem assassinatos, assaltos, crimes sexuais e/ou aliciamento de menores, por exemplo. Para surpresa da direção da penitenciária, o futebol aproximou grupos que pareciam inconciliáveis.
“O esporte é tão importante quanto práticas como educação e trabalho para o nosso bom funcionamento interno”. (Lissandro Moreira, diretor-adjunto do Cepis)
“Quando terminam as partidas, os jogadores se cumprimentam. No sistema prisional, isso é muito difícil de acontecer. O esporte une, e a interação fez com que os índices de agressão diminuíssem”, relata o diretor-adjunto do presídio. Afinal, o mau comportamento de um indivíduo exclui o pavilhão inteiro. “Isso traz uma pacificação”, reforça.
Postura que se reflete em quadra. Nos jogos não há palavrões ou xingamentos – algo tão comum no futebol. Apesar disso, parece um campeonato como qualquer outro. A diferença fundamental é o cenário, com a rede de arame farpado cercando o alto do ginásio, o único portão de acesso sempre fechado e a presença de guardas observando tudo.
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Torneio de futebol do presídio terá a final no dia 23 de junho (Foto: Adriano Paiva/Verminosos por Futebol)
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Torneio de futebol do presídio terá a final no dia 23 de junho (Foto: Adriano Paiva/Verminosos por Futebol)
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Controle da ansiedade é visível, avalia Ricardo Garcia (Foto: Adriano Paiva/Verminosos por Futebol)
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Integração reduziu agressões, indica Lissandro Moreira (Foto: Adriano Paiva/Verminosos por Futebol)
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O Cepis é uma das quatro prisões do Complexo Itaitinga II (Foto: Adriano Paiva/Verminosos por Futebol)
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Torneio do presídio terá a final no dia 23 de junho (Foto: Carlos Gibaja e Max Marduque/Governo do Ceará)
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Torneio do presídio terá a final no dia 23 de junho (Foto: Carlos Gibaja e Max Marduque/Governo do Ceará)
Estresse fica na quadra
No presídio só é possível deixar a cela nos fins de semana, com o banho de sol e a visita da família. Quem participa dos projetos realizados no Cepis, porém, tem esse benefício estendido a outros dias. “A gente fica trancado 24 horas. Sair de um quadrado para jogar bola nesse espaço todo é bom demais”, conta Marcos Camilo Verçosa, de 23 anos, preso por assalto.
Para eles, o simples trancafiamento não é aprendizado para quem cometeu crimes. “A criminalidade só tem aumentado. Onde está a solução? É só colocar o pessoal aqui dentro? Não acredito”, teoriza Francisco Andrade, de 49 anos, ex-atleta dos times de futsal Sumov e Banfort, preso por tentativa de assalto e uso de documento falso – e agora goleiro no presídio.
O controle da ansiedade é perceptível para o educador físico Ricardo Garcia, idealizador do projeto. “Os presos soltam toda a tensão no jogo e ficam mais desestressados”, descreve o professor, também responsável pelas aulas de vôlei e basquete. “Mas eles gostam mesmo é de futebol”. Por isso a felicidade deles quando saem da cela para a quadra.
> Larissa Cavalcante é mestranda em Administração pela UFC, e desenvolve pesquisa sobre empreendedorismo em penitenciárias cearenses.
Veja reportagem em vídeo:
Confira as outras reportagens da série #FutebolAtrásDasGrades:
1 – Presídio cearense aposta em futebol para reinserir detentos à sociedade.
3 – Presídio do Ceará investe em costura de bolas para ocupação de detentos.
4 – Presos fabricam uniformes esportivos como remição de pena no Ceará.
5 – “Todos merecem uma segunda chance”, defende coordenadora da Sejus.
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// TV Verminosos
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