#FutebolAtrásDasGrades #5 – “Todos merecem uma segunda chance”, defende coordenadora da Sejus
Reincidência entre ex-presos que trabalham e são acompanhados pela Sejus é 8 vezes menor
Por Larissa Cavalcante e Rafael Luis Azevedo
Bandido bom é bandido morto? Não, para Cristiane Gadelha, titular da Coordenadoria de Inclusão Social do Preso e do Egresso (Cispe), da Secretaria de Justiça do Ceará (Sejus). Há três anos e meio, é a advogada a responsável pelos projetos de ressocialização de presos no Estado. E ela tem estatísticas na mesa para acreditar nisso.
Dentre aqueles que saem da prisão e conseguem empregar-se, sob acompanhamento da Cispe, a reincidência no crime é de 7%. Já a taxa incluindo toda a população carcerária cearense, de acordo com o Censo Penitenciário do Ceará 2013/14, é de 55%. No Brasil, segundo o Departamento Penitenciário Nacional, a marca é de 70%.
A disparidade nos números, na visão de Cristiane, aponta a necessidade de investimento na qualificação profissional daqueles que a sociedade renega. Para ela, todos merecem uma segunda chance. “Não enxergar que uma pessoa pode mudar é um equívoco. Todos vão progredir, uns vão demorar mais, outros vão demorar menos”, opina.
A entrevista abaixo complementa as reportagens da série #FutebolAtrásDasGrades, sobre os projetos que apostam em futebol para reinserir presos à sociedade. Os bons resultados entre eles animam a coordenadora, num cenário oposto ao da crise do modelo de encarceramento. “A gente quer levar o exemplo para o estado inteiro”.
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Verminosos por Futebol – Quantas fábricas existem dentro de presídios cearenses?
Cristiane Gadelha – Hoje temos 5 empresas dentro do sistema: uma na Penitenciária de Pacatuba (do Sindpan) e quatro em Itaitinga, sendo duas no IPF (Instituto Penal Feminino Auri Moura Costa – de Colmeia e ISM) e duas no Cepis (Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne – de Siker e D’Noite).Verminosos – Como funciona o vínculo trabalhista?
Cristiane – O interno não tem vínculo com a empresa, não é considerado um empregado. A Sejus faz um termo de parceria com o empresário. Ele paga 75% do salário mínimo aos presos, e 100% ao preso supervisor. Não há encargos trabalhistas, e o interno ganha remição da pena além da remuneração (um dia a menos a cada três trabalhados).Verminosos – Tem sido fácil atrair o empresariado?
Cristiane – O empresário só vem se acreditar na ação de responsabilidade social. Monta a fábrica não por pensar em lucro, mas sim na ação social. É isso que estamos mostrando ao empresariado. A criminalidade é alta, mas existem pessoas lutando para combater isso.“O empresário só vem se acreditar na ação de responsabilidade social. Monta a fábrica no presídio não por pensar em lucro, mas sim na ação social”. (Cristiane Gadelha, coordenadora da Cispe/Sejus)
Verminosos – Quais resultados surgem nesses projetos de fabricação de uniformes esportivos e de costura de bolas?
Cristiane – O retorno positivo é a ocupação. O ócio é um mau. O trabalho é uma ocupação em que o preso pode se concentrar em uma habilidade específica. E conviver com uma pessoa que está fazendo uma mesma coisa cria o sentimento de coletividade. Isso é positivo. Quem entra aprende um ofício e pode fazer isso na vida em liberdade.Verminosos – Muitos entendem que presos não devem ter direitos. Por que esses projetos vão num sentido oposto?
Cristiane – A pessoa é retirada da sociedade para que se torne melhor. E ela só se tornará melhor se investirmos no ser humano, na educação e na qualificação profissional. A gente quer trazer para o sistema uma nova forma de cuidar do preso. Essa unidade (o Cepis) é pacífica, então a gente quer levar o exemplo para o estado inteiro.“A pessoa é retirada da sociedade para que se torne melhor. E ela só se tornará melhor se investirmos no ser humano, na educação e na qualificação profissional”.
Verminosos – Há dados que mostrem se a reincidência de crimes entre os presos que participam dos projetos de educação, qualificação profissional e trabalho da Sejus é menor do que nos demais?
Cristiane – Não temos estatística, visto que nem sempre conseguimos acompanhá-los quando saem da unidade prisional, contudo, para o preso que trabalha na liberdade, sob o acompanhamento da Cispe, a reincidência é de 7%.Verminosos – O que você diz quando ouve que “bandido bom é bandido morto”?
Cristiane – Não enxergar que uma pessoa pode mudar é um equívoco. Todos vão progredir, uns vão demorar mais, outros vão demorar menos. Todos que entram nos projetos melhoram. Digo isso porque essas pessoas nos procuram quando ganham a liberdade, e a gente encaminha ao mercado de trabalho. Se todos tiverem uma segunda chance, a sociedade será melhor.Serviço:
Empresas interessadas em parcerias com a Sejus devem procurar a cooordenadoria da Cispe, no telefone (85) 3101.7714.
> Larissa Cavalcante é mestranda em Administração pela UFC, e desenvolve pesquisa sobre empreendedorismo em penitenciárias cearenses.
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Presídio promove torneio entre presos (Foto: Carlos Gibaja e Max Marduque/Governo do Ceará)
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Presídio ocupa presos com costura de bolas (Foto: Carlos Gibaja e Max Marduque/Governo do Ceará)
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Presídio possui fábrica de uniformes feitos por presos (Foto: Adriano Paiva/Verminosos por Futebol)
Confira as outras reportagens da série #FutebolAtrásDasGrades:
1 – Presídio cearense aposta em futebol para reinserir detentos à sociedade.
2 – Presídio cearense promove torneio de futebol para socialização de presos.
3 – Presídio do Ceará investe em costura de bolas para ocupação de detentos.
4 – Presos fabricam uniformes esportivos como remição de pena no Ceará.
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